O Conde de Monte Cristo - Cap. 21: A Ilha de Tiboulen Pág. 176 / 1080

Jacopo deixou-se escorregar pela escotilha e voltou a subir pouco depois com as duas peças de roupa, que Dantès vestiu com indizível prazer.

- E agora, não precisa de mais nada? - perguntou o patrão.

- Um naco de pão e segunda golada desse excelente rum que já provei. Porque há muito tempo que não como nada.

Com efeito, havia quarenta e oito horas, aproximadamente.

Trouxeram a Dantès um naco de pão e Jacopo estendeu-lhe a garrafa empalhada.

- Leme a bombordo! - gritou o patrão, virando-se para o timoneiro.

Dantès deitou uma olhadela para o mesmo lado, levando a garrafa à boca, mas a garrafa ficou a meio caminho.

- Olhem! - exclamou o patrão. - Que se passa no Castelo de If?

Com efeito, uma nuvenzinha branca - nuvem que já atraíra a atenção de Dantès - acabava de aparecer coroando as ameias do bastião sul do Castelo de If

Um segundo mais tarde, o estampido de uma explosão longínqua veio morrer a bordo da tartana.

Os marinheiros ergueram a cabeça e entreolharam-se.

- Que significa aquilo? - perguntou o patrão.

- Deve ter fugido algum prisioneiro esta noite - informou Dantès - por isso disparam o canhão de alarme.

O patrão deitou uma olhadela ao rapaz, que ao mesmo tempo que dizia estas palavras levava a garrafa à boca. Viu-o, porém, a saborear o licor que ela continha com tanta calma e satisfação que, se teve qualquer suspeita, essa suspeita apenas lhe atravessou o espírito e morreu imediatamente.

- Irra, este rum é tremendamente forte! - exclamou Dantès, enxugando com a manga da camisa a testa coberta de suor.

- Seja como for - murmurou o patrão olhando-o -, se é ele, tanto melhor, pois adquiri um excelente homem.

A pretexto de estar cansado, Dantès pediu que o deixassem sentar-se ao leme. O timoneiro, encantado por ser substituído nas suas funções, consultou o patrão com a vista, o qual lhe acenou com a cabeça que podia entregar o leme ao novo companheiro.

Assim colocado, Dantès pôde ficar de olhos fixos para o lado de Marselha.

- A quantos do mês estamos hoje? - perguntou Dantès a Jacopo, que viera sentar-se junto dele, perdendo de vista o Castelo de If

- A 28 de Fevereiro - respondeu o interrogado.

- De que ano? - perguntou ainda Dantès.

- Como, de que ano?! Pergunta de que ano?

- Pergunto - insistiu o rapaz. - Pergunto de que ano.

- Esqueceu-se do ano em que estamos?

- Que quer, apanhei tamanho susto esta noite que quase perdi a cabeça e fiquei com a memória toda baralhada! Por isso lhe pergunto em 28 de Fevereiro de que ano estamos.

- Do ano de 1829 - respondeu Jacopo.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069