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Capítulo 26: A Estalagem da Ponte do Gard

Página 209

Acto contínuo, um grande cão preto levantou-se e deu alguns passos rosnando e mostrando os dentes brancos e agudos, dupla demonstração hostil que provava quão pouco habituado estava a conviver.

Imediatamente um passo pesado fez estremecer a escada de madeira que subia ao longo da parede e que descia, curvado e às arrecuas, o dono do pobre estabelecimento à porta do qual se encontrava o padre.

- Lá vou! - dizia entretanto Caderousse, surpreendidíssimo. - Lá vou! Fazes favor de te calar, Margottin? Não tenha medo, senhor; ladra mas não morde. Deseja vinho, não é verdade? Sempre está um destes calores... Ah, perdão! - interrompeu-se Caderousse ao ver com que espécie de viajante tratava. - Não sabia quem tinha a honra de receber. Que deseja, em que o posso servir, Sr. Abade? Estou às suas ordens.

O padre olhou o homem durante dois ou três segundos com uma atenção estranha e pareceu até procurar atrair sobre si a atenção do estalajadeiro. Depois, vendo que as feições deste só exprimiam surpresa por não receber resposta, achou que era tempo de pôr termo a essa surpresa e perguntou com um acento italiano muito pronunciado:

- O senhor não se chama Caderousse?

- Chamo, senhor - respondeu o estalajadeiro, talvez ainda mais surpreendido com a pergunta do que com o silêncio. - Sou, com efeito. Gaspard Caderousse para o servir.

- Gaspard Caderousse... Sim, creio serem esses o nome e o apelido. Morou há tempos nas Alamedas de Meilhan, não é verdade? No quarto andar?

- Exacto.

- Exercia lá a profissão de alfaiate?

- Exercia, mas o negócio foi por água abaixo. E que faz tanto calor naquela maldita Marselha que, na minha opinião, as pessoas acabarão por andar nuas. Mas a propósito de calor, não deseja refrescar-se, Sr. Abade?

- Pois sim. Dê-me uma garrafa do seu melhor vinho e continuemos a conversa, se não se importa, a partir do ponto onde a deixámos.

- Como quiser, Sr. Abade - respondeu Caderousse.

E para não perder a oportunidade de vender uma das últimas garrafas de vinho de Cahors que lhe restavam, Caderousse apressou-se a levantar um alçapão aberto do próprio soalho daquela espécie de sala do rés-do-chão, que servia ao mesmo tempo de cozinha.

Quando passados cinco minutos reapareceu, encontrou o abade sentado num banco, com o cotovelo apoiado numa mesa comprida, enquanto Margottin, que parecia ter feito as pazes com ele, talvez por esperar que, contrariamente ao habitual, aquele viajante singular tomasse qualquer coisa, lhe estendia sobre a coxa o pescoço descarnado e o olhar langoroso.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 209

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069