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Capítulo 26: A Estalagem da Ponte do Gard

Página 208
Por isso, no tempo da sua prosperidade não deixava passar nem uma ferra de gado, nem uma procissão da tarasca sem nelas se mostrar com a Carconte, um no trajo pitoresco dos homens do Meio-Dia, misto de catalão e andaluz, e a outra com o encantador trajo das mulheres de Arles, que parece inspirado na Grécia e na Arábia. Mas pouco apouco, correntes de relógio, colares, cintas de mil cores, corpetes bordados, jaquetas de veludo, meias elegantes, polainas sarapintadas e sapatos com fivelas de prata tinham desaparecido e Gaspard Caderousse, não podendo continuar a mostrar-se à altura do seu esplendor passado, renunciara por si e pela mulher a todas as pompas mundanas cujo estrépido alegre ouvia, roído de inveja, ecoar até à pobre estalagem que continuava a conservar mais como um abrigo do que como um negócio.

Caderousse mantivera-se, como era seu hábito, parte da manhã diante da porta, passeando o olhar melancólico de um relvadozinho pelado, onde debicavam algumas galinhas, até às duas extremidades do caminho deserto, que se dirigia de um lado para o sul e do outro para o norte. De súbito, porém, a voz azeda da mulher obrigou-o a abandonar o seu posto. Entrou em casa resmungando e subiu ao primeiro andar, mas deixou a porta escancarada como se quisesse convidar os viajantes a não a esquecerem quando passassem.

No momento em que Caderousse entrou em casa, a estrada de que falámos e que ele percorria com a vista encontrava-se tão vazia e solitária como o deserto ao meio-dia. Estendia-se, branca e infinita, entre duas alas de árvores enfezadas, e compreendia-se perfeitamente que um viajante, livre de escolher outra hora do dia, se não aventurasse naquele medonho Sara.

No entanto, apesar de todas as probabilidades, se Caderousse tivesse ficado no seu posto poderia ter visto aparecer, do lado de Bellegarde, um cavaleiro e um cavalo no passo respeitável e amistoso que indica as melhores relações entre o cavalo e o cavaleiro. O animal era um cavalo castrado e avançava a passo travado; o cavaleiro era um padre vestido de preto e coberto com um tricórnio, apesar do calor escaldante do Sol, então no seu zénite. O andamento de ambos não ia além de um trote muito razoável.

Chegado diante da porta o grupo parou. Seria difícil decidir se foi o cavalo que deteve o homem ou o homem que deteve o cavalo; mas em todo o caso o cavaleiro pôs pé em terra e, puxando o animal pela brida, foi prendê-lo ao torniquete de um guarda-vento escalavrado que já só tinha um gonzo. Em seguida dirigiu-se para a porta, enxugando com um lenço de algodão encarnado a testa coberta de suor, e bateu três vezes no limiar com a ponta ferrada da bengala que segurava na mão.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 208

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069