O Conde de Monte Cristo - Cap. 26: A Estalagem da Ponte do Gard Pág. 214 / 1080

- Oh, senhor, Mercédès, a catalã, e o Sr. Morrel não o abandonaram! - prosseguiu Caderousse. - Mas o pobre velho tomou-se de uma antipatia profunda por Fernand, esse mesmo - acrescentou Caderousse com um sorriso irónico - que Dantès lhe disse ser um dos seus amigos.

- E não o era? - perguntou o abade.

- Gaspard, Gaspard!... murmurou a mulher do cimo da escada. - Presta atenção ao que vais dizer.

Caderousse fez um gesto de impaciência, única resposta que se dignou conceder à mulher, e respondeu ao abade:

- Pode-se ser amigo daquele cuja mulher se cobiça? Dantès, que era um coração de ouro, chamava a toda essa gente amigos...

Pobre Edmond!... Na verdade, é preferível que não tenha sabido de nada. Teria muita dificuldade em lhes perdoar à hora da morte... E, apesar do que dizem - continuou Caderousse na sua linguagem a que não faltava uma espécie de poesia rude -, ainda tenho mais medo da maldição dos mortos do que do ódio dos vivos.

- Imbecil! - gritou a Carconte.

- Sabe então - continuou o abade - o que Fernand fez contra Dantès?

- Se sei? Creio bem que sim.

- Fale então.

- Gaspard, procede como quiseres, pois tu é que mandas - interveio a mulher -, mas se confias em mim não digas mais nada.

- Desta vez creio que tens razão, mulher - concordou Caderousse.

- Portanto, não quer dizer mais nada? - perguntou o abade.

- Que adianta falar? - redarguiu Caderousse. - Se o rapaz fosse vivo e me procurasse para saber concretamente quem eram os seus amigos e os seus inimigos, não digo que não falasse.

Mas ele está debaixo da terra, segundo o senhor me disse, e já não pode ter ódio, já se não pode vingar. Punhamos uma pedra em cima de tudo isso.

- Quer então - disse o abade - que dê a essa gente, que o senhor considera indigna, a esses amigos que considera falsos, uma recompensa destinada à fidelidade?

- É verdade, tem razão - admitiu Caderousse. - De resto, que representaria agora para eles o legado do pobre Edmond? Uma gota de água no oceano!

- Sem contar que essa gente te pode esmagar com um gesto - salientou a mulher.

- Como assim? Quer dizer que essa gente se tornou rica e poderosa?

- Então não conhece a sua história?

- Não. Conte-ma.

Caderousse pareceu reflectir um instante.

- Não. Na verdade, seria demasiado longo - acabou por dizer.

- Tem todo o direito de se calar, meu amigo - disse o abade, em tom da mais profunda indiferença -, e respeito os seus escrúpulos. Aliás, o seu procedimento é o de um homem verdadeiramente bom. Não falemos portanto mais disso. De que estava eu encarregado? De uma simples formalidade. Venderei pois o diamante.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069