- Assim espero - respondeu Caderousse, com as faces incendiadas pelo rubor da esperança e da cupidez.
- Escuto-o - disse o abade.
- Espere - pediu Caderousse. - Poderiam interromper-nos no ponto mais interessante e seria desagradável. Aliás, ninguém precisa de saber que o senhor esteve aqui.
Dirigiu-se para a porta da estalagem e fechou-a, e para maior precaução trancou-a também.
Entretanto, o abade escolheu um bom lugar para ouvir tudo à vontade: sentou-se a um canto, de modo a ficar na sombra, enquanto a luz cairia em cheio no rosto do seu interlocutor. Com a cabeça inclinada e as mãos juntas, ou antes, crispadas, preparava-se para ouvir com toda a atenção.
Caderousse puxou um banco e sentou-se diante dele.
-Lembra-te de que não te incitei a nada - disse a voz trémula da Carconte, como se pudesse ver, através do sobrado, a cena que se preparava.
- Está bem, está bem - redarguiu Caderousse. - Não falemos mais disso. Assumo toda a responsabilidade.
E começou.