- Então não viu nem um nem outro?
- Não. Mas viu-me a Sr.ª de Morcerf.
- Como assim?
- Quando saí, caiu-me aos pés uma bolsa. Continha vinte e cinco luíses. Levantei rapidamente a cabeça e vi Mercédès fechar a persiana.
- E o Sr. de Villefort? - indagou o abade.
- Oh, esse não fora meu amigo, a esse não o conhecia, a esse não tinha nada a pedir!
- Mas não sabe o que foi feito dele e a parte que tomou na desgraça de Edmond?
- Não. Sei apenas que algum tempo depois de o mandar prender casou com Mademoiselle de Saint-Méran e em breve deixou Marselha.
«Decerto a felicidade lhe sorriu, como aos outros; decerto é rico como Danglars e considerado como Fernand. Só eu, como vê, fiquei pobre, miserável e esquecido de Deus.
- Engana-se, meu amigo - redarguiu o abade. - às vezes, Deus pode parecer esquecer, quando a sua justiça descansa, mas chega sempre um momento em que Ele se recorda, e aqui está a prova.
Ao dizer estas palavras, o abade tirou o diamante da algibeira e apresentou-o a Caderousse.
- Tome, meu amigo - disse-lhe -, tome este diamante porque ele pertence-lhe.
- Como, a mim só?! - exclamou Caderousse. - Vamos, senhor, não está a brincar?
- Este diamante devia ser vendido entre os seus amigos. Como Edmond só tinha um amigo, a divisão é portanto inútil. Tome este diamante e venda-o. Vale cinquenta mil francos, repito-lhe, importância que, assim espero, bastará para o tirar da miséria.
- Oh, senhor! - disse Caderousse, estendendo timidamente uma das mãos e enxugando com a outra o suor que lhe perlava testa! - Oh, senhor, não brinque com a felicidade ou o desespero de um homem!
- Sei o que é a felicidade e o que é o desespero e nunca brincarei sem motivo com os sentimentos das pessoas. Tome, pois, mas em troca...
Caderousse, que tocava já no diamante, retirou a mão.
O abade sorriu.
- Em troca - continuou - dê-me essa bolsa de seda encarnada que o Sr. Morrel deixou em cima da chaminé do velho Dantès e que me disse encontrar-se ainda em seu poder.
Cada vez mais atónito, Caderousse dirigiu-se para um grande armário de carvalho, abriu-o e deu ao abade uma bolsa comprida, de seda vermelha desbotada, com duas argolas de cobre que em tempos tinham sido douradas.
O abade pegou-lhe e em seu lugar deu o diamante a Caderousse.
- Oh, o senhor é um enviado de Deus! - exclamou Caderousse. - Na verdade, ninguém sabia que Edmond lhe dera este diamante e o senhor poderia ficar com ele.
- Ao que parece, era o que farias - disse baixinho o abade.