Essas cobranças efectuaram-se e Morrel encontrou-se ainda em condições de fazer face aos seus compromissos quando chegou o fim de Julho.
No tocante ao mandatário da casa Thomson & French, ninguém mais lhe pusera a vista em cima em Marselha. No dia seguinte ou dois dias depois da sua visita a Morrel desaparecera. Ora, como em Marselha só falara com o maire, o inspector das prisões e o Sr. Morrel, a sua passagem só deixara como sinal a diferente recordação com que ficaram dele essas três pessoas.
Quanto aos marinheiros do Pharaon, parece que tinha encontrado qualquer colocação, pois também haviam desaparecido.
O comandante Gaumard, refeito da indisposição que o retivera em Palma, regressou por seu turno, mas hesitava em se apresentar ao Sr. Morrel. Este soube porém da sua chegada e foi procurá-lo pessoalmente. O digno armador sabia antecipadamente, pela descrição de Penelon, a forma corajosa como se comportara o comandante durante todo o sinistro e foi ele quem procurou animá-lo. Além disso, levou-lhe o montante do seu soldo, que o comandante Gaumard não ousaria ir receber.
Quando descia a escada, o Sr. Morrel encontrou Penelon, que subia. Penelon fizera, ao que parecia, bom emprego do seu dinheiro, pois estava todo vestido de novo. Ao ver o seu armador, o digno timoneiro pareceu muito embaraçado.
Afastou-se para o canto mais distante do patamar, passou alternadamente o rolo de tabaco da esquerda para a direita e da direita para a esquerda, arregalando os olhos atarantado, e correspondeu apenas com uma tímida pressão ao aperto de mão que, com a sua cordialidade habitual, lhe ofereceu o Sr. Morrel. Este atribuiu o embaraço de Penelon à elegância da sua indumentária. Era evidente que o excelente homem não se dera por si próprio a semelhante luxo; portanto, estava já sem dúvida contratado a bordo de qualquer outro navio e a sua vergonha provinha, se assim se pode dizer, do facto de não ter usado mais tempo do luto pelo Pharaon. Talvez viesse até informar o comandante Gaumard da sua boa fortuna e apresentar-lhe alguma proposta da parte do seu novo patrão.
«Excelentes homens», disse Morrel para consigo enquanto se afastava, «oxalá o seu novo patrão seja capaz de os estimar como eu os estimo e ser mais feliz do que eu!»
Agosto passou em tentativas constantemente renovadas por Morrel para readquirir o seu antigo crédito ou conseguir outro. Em 20 de Agosto soube-se em Marselha que embarcara na mula-posta e disse-se então que a falência deveria ser declarada no fim desse mês e que Morrel partira antecipadamente para não assistir a esse acto cruel, delegado, sem dúvida, no seu primeiro-escriturário Emmanuel e no seu tesoureiro Coclès.