Maximilien desceu rapidamente a escada e lançou-se ao pescoço do pai. Mas de repente recuou, deixando apenas a mão direita apoiada no peito do pai
- Meu pai - disse, fazendo-se pálido como a morte -, porque traz um par de pistolas debaixo da sobrecasaca?
- Pronto, aí está o que eu temia! - exclamou Morrel.
- Meu pai, meu pai, em nome do Céu! - gritou o rapaz. - Para que são essas armas?
- Maximilien - respondeu Morrel, olhando fixamente o filho -, tu és um homem e um homem de honra. Anda comigo, vou-te contar tudo.
E Morrel subiu com passo firme ao seu gabinete, enquanto Maximilien o seguia cambaleando.
Morrel abriu a porta e fechou-a atrás do filho. Depois atravessou a antecâmara, aproximou-se da secretária, depositou as pistolas à ponta do móvel e indicou ao filho, com o dedo, um registo aberto.
Nesse registo encontrava-se consignado o estado exacto da firma.
Morrel tinha de pagar dentro de meia hora duzentos e oitenta e sete mil e quinhentos francos.
E possuía ao todo quinze mil duzentos e cinquenta e sete francos.
- Lê - disse Morrel.
O rapaz leu e ficou um momento como que esmagado.
Morrel não disse nem uma palavra. Que poderia dizer que contrariasse a inexorável eloquência dos números?
- E fez tudo, meu pai, para evitar esta desgraça? - perguntou o rapaz passado um instante.
- Tudo - respondeu Morrel.
- Não espera nenhuma entrada de fundos?
- Nenhuma.
- Esgotou todos os seus recursos?
- Todos.
- E dentro de meia hora o nosso nome estará desonrado? - continuou o jovem, com voz sombria.
- O sangue lavará a desonra - declarou Morrel.
- Tem razão, meu pai, e compreendo-o.
Depois, estendendo a mão para as pistolas:
- Há uma para si e outra para mim - disse. - Obrigado!
Morrel deteve-lhe a mão.
- E a tua mãe... e a tua irmã... quem as sustentará? Um arrepio percorreu todo o corpo do rapaz.
- Meu pai, tenciona pedir-me que viva?
- Sim, tenciono - respondeu Morrel -, porque é esse o teu dever. Possuis um espírito calmo, forte, Maximilien... Maximilien, tu não és um homem vulgar. Não te recomendo nada, não te ordeno nada, apenas te digo: examina a situação como se te fosse estranha e julga-a por ti mesmo.
O rapaz reflectiu um instante e em seguida passou-lhe pelos olhos uma expressão de resignação sublime. Apenas tirou, com um gesto lento e triste, a dragona e a contradragona, insígnias do seu posto.
- Está bem - disse, estendendo a mão a Morrel -, morra em paz, meu pai! Eu viverei
Morrel esboçou o gesto de se lançar aos joelhos do filho, mas Maximilien puxou-o para si e aqueles dois nobres corações bateram um instante um contra o outro.
- Sabes que a culpa não é minha, não sabes? - perguntou Morrel.