Se é um homem de imaginação, se é poeta, saboreie também isto e as barreiras do possível desaparecerão. Os campos do infinito abrir-se-lhe-ão e passeará de coração e espírito libertos no domínio sem limites da fantasia. Se é ambicioso e corre atrás das grandezas do mundo, saboreie mais uma vez isto e dentro de uma hora será rei, não rei de um reinozinho escondido num recanto da Europa, como a França, a Espanha ou a Inglaterra, mas sim rei do mundo, rei do universo, rei da criação. O seu trono erguer-se-á na montanha donde Satanás desafia Jesus. E sem necessitar de lhe prestar homenagem, sem ser obrigado a beijar-lhe as patas, será o senhor supremo de todos os reinos da Terra. Não é tentador o que lhe ofereço, e não é uma coisa facílima, uma vez que basta fazer isto? Ora veja.
Ditas estas palavras, destapou por seu turno a tacinha de prata dourada que continha a substância tão elogiada, tirou uma colher de café da compota mágica, levou-a à boca e saboreou-a lentamente, com os olhos semicerrados e a cabeça inclinada para trás.
Franz deixou-o tomar à vontade o seu manjar favorito.
Depois, quando o viu um bocadinho menos absorto, perguntou-lhe:
- Mas afinal que é esse manjar tão precioso? - Já ouviu falar do Velho da Montanha, aquele que quis mandar assassinar Filipe Augusto? - perguntou-lhe o anfitrião.
- Sem dúvida.
- Como sabe, reinava sobre um rico vale dominado pela montanha donde lhe veio o seu pitoresco nome. No vale havia jardins magníficos plantados por Hassen-ben-Sabah, e nesses jardins pavilhões isolados. Era nesses pavilhões que fazia entrar os seus eleitos e lhes dava a comer, segundo Marco Polo, certa erva que os transportava ao Paraíso, no meio de plantas sempre floridas, de frutos sempre maduros, de mulheres sempre virgens. Ora, o que esses jovens ditosos tomavam por realidade era um sonho; mas um sonho tão agradável, tão inebriante, tão voluptuoso, que se vendiam de corpo e alma àquele que lho proporcionara e, obedecendo às suas ordens como às de Deus, iam ferir no cabo do mundo a vítima indicada, após o que morriam no meio de torturas sem se queixarem, convencidos de que a morte a que se submetiam não passava de um meio de transição para a vida de delícias de que a erva sagrada que tem na sua presença lhos dera um antegosto.
- Então, trata-se de haxixe! - exclamou Franz. - Sim, conheço isso, pelo menos de nome.