E Teresa via-se rica, metida nos mais lindos vestidos e seguida de criados de libré. Depois de passarem todo o dia a tecer o seu futuro com tão loucos e brilhantes arabescos, separavam-se para reconduzirem os seus carneiros ao aprisco e descerem das alturas dos seus sonhos à humildade da sua verdadeira posição.
»Um dia, o jovem pastor disse ao intendente do conde que vira um lobo sair das montanhas da Sabine e rondar-lhe o rebanho. O intendente deu-lhe uma espingarda. Era o que Vampa queria.
»Por acaso, a espingarda era uma excelente arma de Bréscia, que disparava balas com a precisão de uma carabina inglesa. Simplesmente, um dia o conde, ao matar uma raposa ferida, partira-lhe a coronha e a espingarda fora atirada para o refugo.
»Isso porém não constituía nenhuma dificuldade para um escultor como Vampa. Examinou a coronha primitiva, calculou o que seria preciso modificar para a adaptar à sua vista e fez outra coronha carregada de ornamentos tão maravilhosos que se quisesse ir vendê-la à cidade lhe dariam certamente, só pela madeira, quinze ou vinte piastras.
»Mas nem pela cabeça lhe passava fazer isso. Uma espingarda fora durante muito tempo o sonho do rapaz. Em todos os países em que a independência substitui a liberdade a primeira necessidade que experimenta qualquer coração forte, qualquer organização poderosa, é a de possuir uma arma que assegure ao mesmo tempo o ataque e a defesa e que, tornando terrível aquele que a usa, o torne com frequência temido.
»A partir daquele momento, Vampa dedicou todos os momentos livres a exercitar-se com a espingarda. Comprou pólvora e balas e tudo lhe serviu de alvo: o tronco da oliveira triste, enfezada e cinzenta que vegetava na vertente das montanhas da Sabine; a raposa que à tardinha saia do seu covil para começara sua caçada nocturna, e a águia que planava no ar. Em breve se tornou tão hábil que Teresa perdeu o medo que experimentara ao princípio ao ouvir as detonações e divertiu-se a ver o seu jovem companheiro colocar a bala da espingarda onde queria, com tanta precisão como se a fosse lá colocar com a mão.
»Uma tarde, um lobo saiu efectivamente de um bosque de abetos junto do qual os dois jovens costumavam instalar-se. Mas ainda não dera dez passos em campo aberto quando caiu morto.
»Orgulhosíssimo do seu belo tiro, Vampa pô-lo às costas e levou-o para a quinta.
»Todas estas proezas davam a Luigi certa fama nos arredores da quinta.