Acabam de dar dez horas em S. João de Latrão.
- Eu é que cheguei adiantado e não você que chegou atrasado - respondeu o desconhecido no mais puro toscano. - Portanto, deixemo-nos de desculpas. De resto, se me fizesse esperar estou certo de que seria por motivo independente da sua vontade.
- E teria razão, Excelência. Venho do Castelo de Santo Angelo e tive muita dificuldade em falar com Beppo.
- Quem é esse Beppo?
- Beppo é um funcionário da prisão a quem pago uma pequena subvenção para saber o que se passa dentro do castelo de Sua Santidade.
- Ah, ah, vejo que é homem precavido, meu caro!...
- Que quer, Excelência, nunca se sabe o que pode acontecer... Talvez um dia me apanhem na rede com o pobre Peppino e precise de um rato para me roer algumas malhas da minha prisão...
- Em suma, que soube?
- Haverá duas execuções na terça-feira às duas horas, como é hábito em Roma aquando do início de grandes festas. Um condenado será mazzolato. Trata-se de um miserável que assassinou um padre que o criou e que não merece qualquer interesse. O outro será decapitado, e esse é o pobre Peppino.
- Que quer, meu caro, inspira tão grande terror não só ao governo pontifício, como também aos reinos vizinhos, que pretendem absolutamente dar um exemplo.
- Mas Peppino nem sequer pertenceu à minha quadrilha. É um pobre pastor que apenas cometeu o crime de nos fornecer víveres.
- O que o constituiu perfeitamente em seu cúmplice. Por isso, têm alguma consideração com ele: em vez de o fustigarem, como acontecerá consigo se alguma vez lhe puserem as mãos em cima, limitar-se-ão a guilhotiná-lo. De resto, isso variará os prazeres do povo e haverá espectáculo para todos os gostos.
- Sem contar com o que organizo e pelo qual ninguém espera - acrescentou o trastevenano.
- Meu caro amigo, permita-me que lhe diga que me parece disposto a cometer alguma tolice - observou o homem da capa.
- Estou disposto a tudo para impedir a execução do pobre diabo, que está em apuros por me ter ajudado. Pela Madona, considerar-me-ia um cobarde se não fizesse qualquer coisa pelo pobre rapaz!
- Que tenciona fazer?
- Colocarei uns vinte homens à roda do cadafalso e quando o trouxerem, a um sinal que darei, atirar-nos-emos de punhal em punho à escolta e apoderar-nos-emos dele.
- Isso parece-me muito arriscado e creio decididamente que o meu plano é melhor do que o seu.
- Qual é o seu plano, Excelência?
- Darei dez mil piastras a determinada pessoa que conheço e que conseguirá que a execução de Peppino seja adiada para o próximo ano.