Adormeceu ao amanhecer, o que fez com que acordasse muito tarde. Albert, como verdadeiro parisiense que era, já tomara as suas precauções para a noite e começara por mandar comprar um camarote ao Teatro Argentina.
Franz tinha de escrever várias cartas para França e cedeu portanto para todo o dia a carruagem a Albert.
Albert regressou às cinco horas. Apresentara as suas cartas de recomendação, obtivera convites para todas as festas e visitara Roma. Um dia bastara a Albert para fazer tudo isso. E ainda tivera tempo de se informar da peça que se representava e dos actores que a desempenhariam. A peça tinha por título Parisina e os actores chamavam-se Coselli, Moriani e Spech.
Os nossos dois jovens não eram tão infelizes como julgavam: iam assistir à representação de uma das melhores óperas do autor de Lucia di Lammermoor, interpretada por três dos mais famosos artistas da Itália.
Albert nunca conseguira habituar-se aos teatros ultramontanos, cujos lugares de orquestra eram insuportáveis, e que não têm balcões nem frisas. Era duro para um homem que tinha a sua assinatura na ópera Cómica e o seu lugar no camarote infernal da ópera Dramática.
Mas isso não impedia Albert de se vestir a primor todas as vezes que ia à ópera com Franz. Primores desperdiçados, pois é triste reconhecer, para vergonha de um dos mais dignos representantes da nossa fashion, que desde que há quatro meses cruzava a Itália em todos os sentidos, Albert não tivera uma única aventura.
Às vezes, Albert procurava gracejar a tal respeito; mas no fundo estava singularmente mortificado por ele, Albert de Morcef, um dos jovens mais requestados, ainda não ter visto o seu esforço recompensado. O caso era tanto mais penoso quanto é certo que, segundo o hábito modesto dos nossos caros compatriotas, Albert partira de Paris com a convicção de ir obter em Itália os maiores êxitos e de no regresso fazer as delícias do Buievard de Gand com a história das suas aventuras.
Infelizmente, nada semelhante acontecera. As encantadoras condessas genovesas, florentinas e napolitanas estavam presas, não aos maridos, mas sim aos amantes, e Albert adquirira a cruel convicção de que as italianas tinham pelo menos sobre as francesas a vantagem de serem fiéis na sua infidelidade.
Não quero dizer que na Itália, como em toda a parte, não haja excepções. E contudo Albert era não só um cavalheiro perfeitamente elegante, mas também um homem de muito espírito. Além disso, era visconde. Visconde da nova nobreza, é certo. Mas hoje, que já não nos prendemos com essas ninharias, que importa que a nobreza remonte a 1399 ou a 1815?