- Espere, espere... creio ter dito ontem ao meu intendente para tratar disso. Talvez possa prestar-lhes também esse pequeno serviço.
Estendeu a mão para um cordão de campainha e puxou-o três vezes.
- Nunca se preocupou - disse a Franz - com o emprego do tempo e o meio de simplificar as idas e vindas dos criados? Fiz um estudo disso. Quando toco uma vez é para o meu criado de quarto; duas vezes, é para o meu mordomo; três vezes, é para o meu intendente. Assim, não perco nem um minuto, nem uma palavra. Cá está o nosso homem.
Viu-se então entrar um indivíduo de quarenta e cinco a cinquenta anos, que pareceu a Franz assemelhar-se como duas gotas de água com o contrabandista que o introduzira na gruta, mas que não pareceu reconhecê-lo por nada deste mundo. Pelos vistos, fora passada palavra.
- Sr. Bertuccio - perguntou o conde -, tratou, como lhe ordenei ontem, de me arranjar uma janela na Praça del Popolo?
- Tratei, sim, Excelência - respondeu o intendente -, mas era muito tarde...
- Como, não lhe tinha dito que queria uma? - indagou o conde, franzindo o sobrolho.
- E Vossa Excelência tem uma, a que estava alugada ao príncipe Lobanieff. Mas tive de a pagar por cento...
- Está bem, está bem, Sr. Bertuccio, poupe a estes senhores a todos esses pormenores domésticos. Arranjou a janela, não arranjou? Pois nada mais é preciso. Dê o endereço da casa ao cocheiro e este já na escada para nos acompanhar. Não é preciso mais nada. Vá.
O intendente cumprimentou e deu um passo para se retirar .
- Ah! - deteve-o o conde. - Faça-me o favor de perguntar a Pastrini se recebeu a tavoletta e me quer enviar o programa da execução.
- É inútil - interveio Franz, tirando a sua agenda da algibeira. - Vi esses cartazes, copiei-os e tenho-os aqui.
- Muito bem. Então, Sr. Bertuccio, pode-se retirar, não preciso mais de si. Previnam-nos apenas quando o pequeno-almoço estiver servido. Estes senhores - continuou, virando-se para os dois amigos - dão-me a honra de tomar o pequeno-almoço comigo, não é verdade?
- Mas, Sr. Conde, na verdade seria abusar - protestou Albert.
- Não, antes pelo contrário, dar-me-ão grande prazer. Retribuir-me-ão tudo isto um dia, em Paris, um ou outro e talvez ambos. Sr. Bertuccio, mande pôr três talheres.
Tirou a agenda das mãos de Franz.
- Dizem portanto - continuou no tom de quem lê os pequenos anúncios - que «serão executados hoje, 12 de Fevereiro, o réu Andrea Rondolo, culpado de assassínio na pessoa respeitabilíssima e veneradíssima de D. César Terlini, cónego da Igreja de S. João de Latrão, e o réu Peppino, também conhecido por Rocca Priori, culpado de cumplicidade com o detestável bandido Luigi Vampa e os homens da sua quadrilha...» Hum!...