O Conde de Monte Cristo - Cap. 5: O banquete de noivado Pág. 33 / 1080

No mesmo instante, Danglars, que não perdia de vista Fernand, sentado no bordo da janela, viu-o abrir muito os olhos, levantar-se como que convulsivamente e voltar a cair sentado no parapeito da janela. Quase imediatamente soou na escada um ruído abafado: o eco de passos pesados e um rumor de vozes confuso, misturados com o tenir de armas, sobrepuseram-se às exclamações dos convivas, apesar de ruidosas, e atraíram a atenção de todos, que se remeteram a um silêncio inquieto.

O barulho aproximou-se. Soaram três pancadas na porta. Cada um olhou para o vizinho com ar atónito.

- Em nome da lei! - gritou uma voz vibrante à qual nenhuma outra respondeu.

A porta abriu-se imediatamente e um comissário, com a sua faixa à cintura, entrou na sala seguido de quatro soldados armados, comandados por um cabo.

A inquietação cedeu o lugar ao terror.

- Que se passa? - perguntou o armador indo ao encontro do comissário, que conhecia. - Trata-se com certeza de algum equívoco, senhor.

- Se houver equívoco, Sr. Morrel - respondeu o comissário creia que será prontamente reparado. Entretanto, sou portador de um mandado de captura. E embora seja com pesar que me desempenho da minha missão, nem por isso tenho menos de a desempenhar. Qual dos senhores é Edmond Dantès? Todos os olhares se viraram para o jovem que, muito impressionado, mas sem perder a dignidade, deu um passo em frente e disse:

- Sou eu, senhor, que me quereis?

- Edmond Dantès - prosseguiu o comissário -, em nome da lei, está preso!

- Prende-me? - redarguiu Edmond, com uma ligeira palidez. - Mas prende-me porquê?

- Ignoro, senhor, mas sabê-lo-á no seu primeiro interrogatório.

O Sr. Morrel compreendeu que não havia nada a fazer contra a inflexibilidade da situação. Um comissário com a sua faixa à cintura já não é um homem, é a estátua da lei, fria, surda e muda. O velho, pelo contrário, precipitou-se para o oficial; há coisas que o coração de um pai ou de uma mãe nunca compreendem. Pediu e suplicou, mas as suas lágrimas e as suas súplicas não podiam nada. Contudo, o seu desespero era tão grande que o comissário se comoveu.

- Senhor - disse-lhe -, sossegue. Talvez o seu filho se tenha esquecido de cumprir alguma formalidade aduaneira ou sanitária e muito provavelmente, depois de prestar todas as informações que pretendam dele, será posto em liberdade.

- Olá!... Que significa isto? - perguntou, franzindo o sobrolho, Caderousse a Danglars, que simulava surpresa.

- Sei lá! - respondeu Danglars. - Estou como tu: vejo o que se passa, não compreendo nada e fico confuso.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069