O Conde de Monte Cristo - Cap. 5: O banquete de noivado Pág. 34 / 1080

Caderousse procurou com a vista Fernand: desaparecera. Toda a cena da véspera se lhe apresentou então no espírito com terrível lucidez. Dir-se-ia que a catástrofe acabava de afastar o véu que a embriaguez da véspera colocara entre ele e a sua memória.

- Oh, oh!... - exclamou com voz rouca. - Será isto o resultado da brincadeira de que falavam ontem, Danglars? Nesse caso, ai de quem a pôs em prática, porque é muito triste.

- Não digas isso! - protestou Danglars. Sabes perfeitamente que rasguei a carta.

- Não a raspaste - corrigiu Caderousse. Limitaste-te a atirá-la para um canto.

- Cala-te, tu não viste nada, estavas bêbedo.

- Onde está Fernand? - perguntou Caderousse.

- Sei lá! - respondeu Danglars. - Provavelmente foi à sua vida.

Mas em vez de perdermos tempo com isso vamos ajudar esses pobres infelizes. Com efeito, durante esta conversa, Dantès apertara, sorrindo, a mão a todos os seus amigos e constituíra-se prisioneiro dizendo:

- Fiquem tranquilos, o erro explicar-se-á e provavelmente nem sequer entrarei na cadeia.

- Com certeza, estou convencido disso! - disse Danglars, que na altura se aproximava, como dissemos, do grupo principal.

Dantès desceu a escada, precedido pelo comissário de polícia e rodeado pelos soldados. Uma carruagem com a portinhola aberta esperava à porta. Subiu para ela, dois soldados e o comissário subiram depois dele, a portinhola fechou-se e a carruagem tomou o caminho de Marselha.

- Adeus, Dantès! Adeus, Edmond! - gritou Mercédès debruçando-se da balaustrada.

O prisioneiro ouviu este último grito, saído como um soluço do coração dilacerado da noiva. Deitou a cabeça fora da portinhola e gritou, antes de desaparecer numa das esquinas do Forte de S. Nicolau:

- Até à vista, Mercédès!

- Esperem aqui por mim - disse o armador. - Meter-me-ei na primeira carruagem que encontrar, correrei a Marselha e voltarei com notícias.

- Vá! - gritaram todas as vozes. - Vá e volte depressa!

Depois das duas saídas houve um momento de terrível torpor entre todos os que ficaram. O velho e Mercédès permaneceram durante algum tempo absortos, cada um na sua própria dor. Mas por fim os seus olhos reencontraram se, ambos se reconheceram como duas vítimas atingidas pelo mesmo golpe e lançaram-se nos braços um do outro.

Entretanto, Fernand regressou, encheu um copo de água, bebeu-o e foi sentar-se numa cadeira. O acaso fez com que, ao sair dos braços do velhote, Mercédès se deixasse cair numa cadeira vizinha. Num momento instintivo, Fernand recuou a dele.

- Foi ele - disse a Danglars o alfaiate Caderousse, que não perdera de vista o catalão.

- Não creio - respondeu Danglars. - Seria demasiado estúpido.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069