O Conde de Monte Cristo - Cap. 36: O Carnaval de Roma Pág. 354 / 1080

Todas estas evoluções se efectuam, de resto, com inconcebível perícia e maravilhosa rapidez, e isso sem que a Polícia se dê ao menor incómodo de indicar a cada um o seu lugar ou de traçar a cada um o seu caminho. Os peões encostaram-se às paredes dos palácios e em seguida ouviu-se um grande barulho de cavalos e bainhas de sabre.

Um esquadrão de carabineiros a quinze de frente percorria a galope e a toda a largura a rua do Corso, que varria para abrir lugar aos barberi. Quando o esquadrão chegou ao Palácio de Veneza, o rebentamento doutra girândola de foguetes anunciou que a rua estava livre. Quase imediatamente, no meio de um clamor imenso, universal, inaudito, viram-se passar como sombras sete ou oito cavalos excitados pelos clamores de trezentas mil pessoas e pelas castanhas de ferro que lhes saltavam no dorso. Depois, o canhão do Castelo de Santo Ângelo disparou três tiros. Estes destinavam-se a anunciar que o número três ganhara. Acto contínuo, sem outro sinal além daquele, as carruagens puseram-se de novo em movimento e refluíram, para o Corso, transbordando de todas as ruas como torrentes por instantes contidas que se lançam ao mesmo tempo no leito do rio que alimentam, e a vaga imensa recomeçou, mais rápida do que nunca, o seu curso entre as duas margens de granito.

Apenas um novo elemento de barulho e movimento se viera ainda juntar à multidão: os vendedores de moccoli acabavam de entrar em cena.

Os moccolli ou moccoletti são velas que variam de tamanho, desde o círio pascal até ao rolo de pavio, e que provocam nos actores da grande representação com que termina o Carnaval romano duas preocupações opostas: 1.ª A de conservar aceso o seu mocoletto; 2.ª A de apagar o moccoletto dos outros.

Passa-se com o moccoletto o mesmo que com a vida: o homem ainda só encontrou um meio de a transmitir, e esse meio recebe-o de Deus. Mas descobriu mil meios de a tirar, e a verdade é que nessa operação suprema o Diabo o tem ajudado um bocadinho. O moccoletto acende-se chegando-se a uma chama qualquer.

Mas como descrever as mil maneiras inventadas para apagar o moccoletto, os foles gigantescos, os apagadores monstros, os leques sobre-humanos? Toda a gente se apressou a comprar moccoletti, Franz e Albert como os outros.

A noite aproximava-se rapidamente, e em breve, ao grito de «Moccoli!» repetidos pelas vozes estridentes de um milhar de vendedores, duas ou três estrelas começaram a brilhar por cima da multidão. Foi como que um sinal.

Ao cabo de dez minutos, cinquenta mil luzes cintilaram, descendo o Palácio de Veneza para a Praça do Povo e subindo da Praça do Povo para o Palácio de Veneza. Dir-se-ia a festa dos fogos-fátuos.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069