Um esquadrão de carabineiros a quinze de frente percorria a galope e a toda a largura a rua do Corso, que varria para abrir lugar aos barberi. Quando o esquadrão chegou ao Palácio de Veneza, o rebentamento doutra girândola de foguetes anunciou que a rua estava livre. Quase imediatamente, no meio de um clamor imenso, universal, inaudito, viram-se passar como sombras sete ou oito cavalos excitados pelos clamores de trezentas mil pessoas e pelas castanhas de ferro que lhes saltavam no dorso. Depois, o canhão do Castelo de Santo Ângelo disparou três tiros. Estes destinavam-se a anunciar que o número três ganhara. Acto contínuo, sem outro sinal além daquele, as carruagens puseram-se de novo em movimento e refluíram, para o Corso, transbordando de todas as ruas como torrentes por instantes contidas que se lançam ao mesmo tempo no leito do rio que alimentam, e a vaga imensa recomeçou, mais rápida do que nunca, o seu curso entre as duas margens de granito.
Apenas um novo elemento de barulho e movimento se viera ainda juntar à multidão: os vendedores de moccoli acabavam de entrar em cena.
Os moccolli ou moccoletti são velas que variam de tamanho, desde o círio pascal até ao rolo de pavio, e que provocam nos actores da grande representação com que termina o Carnaval romano duas preocupações opostas: 1.ª A de conservar aceso o seu mocoletto; 2.ª A de apagar o moccoletto dos outros.
Passa-se com o moccoletto o mesmo que com a vida: o homem ainda só encontrou um meio de a transmitir, e esse meio recebe-o de Deus. Mas descobriu mil meios de a tirar, e a verdade é que nessa operação suprema o Diabo o tem ajudado um bocadinho. O moccoletto acende-se chegando-se a uma chama qualquer.
Mas como descrever as mil maneiras inventadas para apagar o moccoletto, os foles gigantescos, os apagadores monstros, os leques sobre-humanos? Toda a gente se apressou a comprar moccoletti, Franz e Albert como os outros.
A noite aproximava-se rapidamente, e em breve, ao grito de «Moccoli!» repetidos pelas vozes estridentes de um milhar de vendedores, duas ou três estrelas começaram a brilhar por cima da multidão. Foi como que um sinal.
Ao cabo de dez minutos, cinquenta mil luzes cintilaram, descendo o Palácio de Veneza para a Praça do Povo e subindo da Praça do Povo para o Palácio de Veneza. Dir-se-ia a festa dos fogos-fátuos.