- Como vê - disse Danglars -, já se julga comandante, como acabo de lhe dizer.
- E é-o de facto - redarguiu o armador.
- Sim, caso tenha o seu acordo e o do seu sócio, Sr. Morrel.
- E porque lhe não daríamos o lugar? - replicou o armador. - É novo, bem sei, mas parece-me capaz de desempenhar perfeitamente o cargo.
Passou uma nuvem pela testa de Danglars.
- Perdão, Sr. Morrel - disse Dantès, aproximando-se. - Agora que o navio já está ancorado, estou às suas ordens. Chamou-me, não é verdade? Danglars deu um passo atrás.
- Queria perguntar-lhe por que motivo se detiveram na ilha de Elba - respondeu Morrel.
- Ignoro-o, senhor. Cumpri apenas a última ordem do comandante Leclère, que ao morrer me entregou um pacote para o grande marechal Bertrand.
- Viu-o, portanto, Edmond?
- Quem?
- O grande marechal.
- Vi.
Morrel olhou à sua volta e puxou Dantès à parte.
- E como está o imperador? - perguntou vivamente.
- Bem, tanto quanto me foi dado julgar pelos meus olhos.
- Quer dizer que também viu o imperador?
- Entrou em casa do marechal quando lá me encontrava.
- E você falou-lhe?
- Bom, quem me falou foi ele, senhor - respondeu Dantès, sorrindo.
- E que lhe disse?
- Interrogou-me acerca do navio, de quando partia para Marselha, da rota seguida e da carga que transportava. Creio que se estivesse vazio e fosse meu a sua intenção seria comprá-lo.
Mas disse-lhe que não passava de um simples imediato e que o navio pertencia à casa Morrel & Filhos. «Ah! Ah!, conheço-a!, exclamou. «Os Morrels são armadores de pais para filhos e houve um Morrel que serviu no mesmo regimento que eu quando estive de guarnição em Valence.»
- Por Deus, é verdade! - exclamou o armador, contentíssimo. - Era Policar Morrel, meu tio, que foi capitão. Dantès, se disser ao meu tio que o imperador se lembrou dele, verá como o velho resmungão desata a chorar. Pronto, pronto - prosseguiu o armador, batendo amistosamente no ombro do rapaz -, fez bem, Dantès, em seguir as instruções do comandante Leclère e escalar a ilha de Elba, embora se se soubesse que entregou um pacote, ao marechal e conversou com o imperador, isso o pudesse comprometer.
- Em que quer o senhor que isso me comprometa - redarguiu Dantès -se nem sequer sei o que continha o pacote e o imperador só me interrogou acerca de coisas que perguntaria ao primeiro que lhe aparecesse? Mas, perdão - prosseguiu Dantès -, aí estão a sanidade e a alfândega. Dá-me licença, não é verdade?
- Claro, claro, meu caro Dantès.
O jovem afastou-se e, como ele se afastasse, Danglars tornou a aproximar-se.