O Conde de Monte Cristo - Cap. 41: A apresentação Pág. 406 / 1080

- Sim - prosseguiu Monte-Cristo -, é o que indicam as melras. Quase todos os peregrinos armados que tentaram ou fizeram a conquista da Terra Santa tomaram como armas ou cruzes, sinal da missão a que se tinham votado, ou pássaros migradores, símbolo da longa viagem que iam empreender e que esperavam concluir nas asas da fé. Um dos seus antepassados paternos terá sido de alguma das vossas cruzadas, e mesmo supondo que fosse apenas a de S. Luís, isso já nos faz remontar ao século XIII, o que é ainda muito bonito.

- É possível - concordou Morcerf. - No gabinete de meu pai existe em qualquer parte uma árvore genealógica que nos dirá isso e na qual cheguei a anotar comentários que seriam muito elucidativos para Hozier e Jaucourt. Agora já me não preocupo com isso. No entanto, sempre lhe digo, Sr. Conde, e isto entra nas minhas atribuições de cicerone, que as pessoas começam a ocupar-se muito dessas coisas sob o nosso Governo Popular.

- Bom, nesse caso o vosso Governo deveria ter escolhido no seu passado coisa melhor do que os dois cartazes que notei nos vossos monumentos e que não têm nenhum sentido heráldico. Quanto a si, visconde - prosseguiu Monte-Cristo, voltando a Morcerf -, é mais feliz do que o seu Governo, pois as suas armas são realmente belas e falam à imaginação. Sim, é isso mesmo: o senhor é ao mesmo tempo da Provença e de Espanha. E o que explica, se o retrato que me mostrou está parecido, a bela cor morena que tanto admirei no rosto da nobre catalã.

Seria preciso ser Édipo ou a própria esfinge para adivinhar a ironia que o conde pôs nas suas palavras, aparentemente cheias da maior delicadeza. Por isso, Morcerf agradeceu-lhe com um sorriso e, passando à frente para lhe indicar o caminho, empurrou a porta que se abria por baixo das suas armas e que, como dissemos, dava para a sala de visitas.

No sítio mais em evidência da sala via-se também um retrato: o de um homem de trinta e cinco a trinta e oito anos, em uniforme de oficial general, com dragonas em canutilho, sinal dos graus superiores, a fita da Legião de Honra ao pescoço, o que indicava que era comendador, e no peito, à direita, a placa de grande-oficial da Ordem do Salvador e, à esquerda, a da grã-cruz de Carlos III, o que indicava que a pessoa retratada participara nas guerras da Grécia e de Espanha ou, o que significava absolutamente o mesmo em matéria de condecorações, desempenhara qualquer missão diplomática nos dois países.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069