- Não, Excelência, não - respondeu o intendente, com uma espécie de tremor nervoso que Monte-Cristo, bom conhecedor de emoções, atribuiu, e com razão, a uma grande inquietação.
- É deplorável que nunca tenha visitado os arredores de Paris, pois desejo visitar esta mesma tarde a minha nova propriedade, e acompanhando-me dar-me-ia sem dúvida informações úteis.
- Ir a Auteuil?! - exclamou Bertuccio, cujo rosto acobreado se tornou quase lívido.
- Eu, ir a Auteuil?!
- Então, que tem de extraordinário que vá a Auteuil, faz favor de me dizer? Quando eu residir em Auteuil terá de lá ir, uma vez que faz parte do pessoal.
Bertuccio baixou a cabeça diante do olhar imperioso do amo e ficou imóvel, sem responder.
- Esta agora! Que mosca lhe mordeu? Terei de tocar segunda vez a chamar a carruagem? - disse Monte-Cristo no tom com que Luís XIV pronunciou o famoso: «Quase esperei!». Bertuccio não deu mais do que um salto da salinha à antecâmara, e gritou com a voz rouca:
- Os cavalos de Sua Excelência!
Monte-Cristo escreveu duas ou três cartas. Quando lacrava a última, o intendente reapareceu.
- A carruagem de Sua Excelência está à porta - anunciou.
- Muito bem! Pegue nas suas luvas e no seu chapéu - ordenou Monte-Cristo.
- Vou com o Sr. Conde? - surpreendeu-se Bertuccio.
- Sem dúvida. Tem de dar as suas ordens, pois conto habitar aquela casa.
Não havia exemplo de alguém ter replicado a uma ordem do conde. Por isso, sem fazer qualquer objecção, o intendente seguiu o amo, que seguiu para a carruagem e lhe fez sinal para o acompanhar. O intendente sentou-se respeitosamente no banco da frente.