O Conde de Monte Cristo - Cap. 43: A Casa de Auteuil Pág. 420 / 1080

- Um velho fidalgo - continuou o porteiro -, um fiel servidor dos Bourbons. Tinha uma filha única, que casou com o Sr. De Villefort, que foi procurador régio em Nímes e depois em Versalhes.

Monte-Cristo deitou um olhar a Bertuccio, que encontrou mais lívido do que a parede a que se encostara para não cair.

- Mas essa filha não morreu? - perguntou Monte-Cristo. - Parece-me que ouvi dizer isso.

- Sim, senhor, há vinte e um anos, e desde então não vimos mais de três vezes o pobre marquês.

- Obrigado, obrigado - agradeceu Monte-Cristo, considerando, em vista da prostração do intendente, que não devia esticar mais a corda, pois corria o risco de a quebrar.

- Obrigado! Arranje-me luz, bom homem.

- Devo acompanhar o senhor?

- Não, é inútil. Bertuccio alumia-me.

E Monte-Cristo acompanhou estas palavras da oferta de duas moedas de ouro, que provocaram uma explosão de bênçãos e suspiros.

- Ah, senhor, não tenho velas aqui! - exclamou o porteiro depois de procurar inutilmente no rebordo da chaminé e nas prateleiras contíguas.

- Traga uma das lanternas da carruagem, Bertuccio, e mostre-me as casas - ordenou o conde.

O intendente obedeceu sem comentários, mas era fácil de ver, pela tremura da mão que segurava a lanterna, o que lhe custava obedecer.

Percorreram o rés-do-chão, bastante vasto; o primeiro andar, composto de uma sala, uma casa de banho e dois quartos. Um dos quartos comunicava com uma escada de caracol, que terminava no jardim.

- Olha, uma escada de comunicação - observou o conde. - Não deixa de ser cómodo... Alumie-me, Sr. Bertuccio. Passe adiante e vejamos aonde nos leva esta escada.

- Vai dar ao jardim, senhor - informou Bertuccio.

- Como sabe isso, é capaz de me dizer?

- Isto é, deve ir dar...

- Bom, verifiquemos.

Bertuccio soltou um suspiro e foi à frente. A escada terminava efectivamente no jardim.

O intendente parou junto da porta exterior.

- Vamos, Sr. Bertuccio! - chamou-o o conde.

Mas o homem estava acabrunhado, aparvalhado, aniquilado.

Os seus olhos alucinados procuravam à sua volta como que os vestígios de um passado terrível, e com as mãos crispadas parecia repelir recordações horríveis.

- Então? - insistiu o conde.

- Não! Não! - gritou Bertuccio, pousando a mão na esquina do muro interior. - Não, senhor, não irei mais longe, é impossível!

- Que está a dizer? - inquiriu a voz irresistível de Monte-Cristo.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069