O Conde de Monte Cristo - Cap. 44: A vendetta Pág. 430 / 1080

«A porta abriu-se e o homem da capa reapareceu. Chegara o terrível momento. Mas havia tanto tempo que me preparara para ele que nada em mim fraquejou. Puxei da navalha, abri-a e esperei.

«O homem da capa veio direito a mim. Mas à medida que avançava no espaço descoberto, julguei notar que trazia uma arma na mão direita. Tive medo, não de uma luta, mas sim de um malogro. Quando, porém, chegou apenas a alguns passos de num, verifiquei que o que tomara por uma arma não passava de uma enxada.

«Ainda não conseguira adivinhar com que fim o Sr. de Villefort trazia uma enxada na mão, quando ele parou na orla do maciço, deitou um olhar à sua volta e começou a abrir um buraco na terra. Foi então que descobri que havia qualquer coisa na capa, que acabava de depositar no relvado para ter os movimentos mais livres.

«Então, confesso, insinuou-se no meu ódio um pouco de curiosidade. Quis ver o que vinha fazer ali Villefort. Fiquei imóvel, sem respirar, e esperei.

«Depois acudiu-me uma ideia, que se confirmou quando vi o procurador régio tirar da capa um cofrezinho de dois pés de comprimento e seis a oito polegadas de largura.

«Deixei-o depositar o cofre na cova e cobri-lo de terra. Em seguida, calcou com os pés a terra fresca, para fazer desaparecer os vestígios da sua obra nocturna. Atirei-me então a ele e cravei-lhe a navalha no peito, dizendo:

«- Sou Giovanni Bertuccio! A Tua morte para o meu irmão, o teu tesouro para a sua viúva! Bem vês que a minha vingança é mais completa do que esperava.

«Não sei se ouviu estas palavras; não creio, porque caiu sem soltar um grito. Senti as golfadas do seu sangue jorrarem-me escaldantes sobre as mãos e a cara; mas estava ébrio, delirava, e aquele sangue refrescava-me em vez de me queimar.

Num segundo, desenterrei o cofrezinho com o auxílio da enxada, e depois, para que ninguém notasse que o roubara, enchi por minha vez o buraco de terra, atirei a enxada por cima do muro, corri para a porta, saí e fechei-a com duas voltas pelo lado de fora. Guardei a chave e Fugi

- Bom, pelo que vejo um assassiniozinho, seguido de roubo - observou Monte-Cristo.

- Não, Excelência - respondeu Bertuccio -, uma vendetta, seguida de restituição.

- E a importância era avultada, ao menos?

- Não era dinheiro.

- Ah! Sim, já me lembro - disse Monte-Cristo. - Não se referiu a uma criança?

- Justamente, Excelência. Corri para o rio, sentei-me no talude e, ansioso por saber o que continha o cofre, fiz saltara fechadura com a navalha.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069