«- É de facto a mesma coisa - murmurou o joalheiro. - E no fim de contas a história pode ser verdadeira, por mais inverossímil que pareça à primeira vista. Só falta ajustarmos portanto o preço, acerca do qual não estamos de acordo.
«- Como é que não estamos de acordo? - interveio Caderousse. - Julgava que tinha aceitado o preço que lhe pedi...
«- Não - redarguiu o joalheiro -, eu ofereci quarenta mil francos.
«- Quarenta mil! - gritou a Carconte. - Escusa de esperar que lho vendamos por esse preço. O abade disse-nos que valia cinquenta mil francos, e sem engaste.
«- E como se chamava esse abade? - perguntou o infatigável curioso.
«- Abade Busoni - respondeu a mulher.
«- Era então um estrangeiro?
«- Era um italiano dos arredores de Mântua, segundo creio.
«- Mostre-me o diamante - pediu o joalheiro. - Quero vê-lo outra vez. Muitas vezes julgam-se mal as pedras à primeira vista.
«Caderousse tirou da algibeira um estojozinho de chagrém preto, abriu-o e passou-o ao joalheiro. Ao ver o diamante, que era do tamanho de uma avelã (lembro-me como se ainda o estivesse a ver), os olhos de Carconte cintilaram de cupidez.
- E que pensou de tudo isso, senhor escutador às portas? - perguntou Monte-Cristo. - Acreditou nessa bela fábula?
- Acreditei, Excelência. Não considerava Caderousse um mau homem e julgava-o incapaz de cometer um crime. Ou mesmo um roubo.
- Isso honra mais o seu coração do que a sua experiência, Sr. Bertuccio. Conheceu esse tal Edmond Dantès a que se referiam?
- Não, Excelência, nunca ouvira falar dele até ali, e depois disso só ouvi falar uma vez, ao próprio abade Busoni, quando o vi nas prisões de Nímes.
- Bom, continue.
- O joalheiro tirou o anel das mãos de Caderousse e depois, da algibeira, uma pinça de aço e uma balancinha de cobre. Seguidamente, abriu os grampos de ouro que prendiam a pedra ao anel, extraiu o diamante do seu alvéolo e pesou-o cuidadosamente na balança.
«- Vou até aos quarenta e cinco mil francos - declarou -, não dou nem mais um soldo. De resto, como era esse o valor do diamante, foi exactamente a importância que trouxe comigo.
«- Oh, lá por isso não seja a dúvida - redarguiu Caderousse.
- Voltarei consigo a Beaucaire e dar-me-á lá os cinco mil francos.
«- Não - respondeu o joalheiro, restituindo o anel e o diamante a Caderousse. - Isso não vale mais e já fiz mal em oferecer tal importância, pois a pedra tem um defeito em que não reparei da primeira vez. Mas não importa, só tenho uma palavra; disse quarenta e cinco mil francos e não me desdigo.
«- Ao menos volte a colocar o diamante no anel – pediu azedamente a Carconte.