O Conde de Monte Cristo - Cap. 44: A vendetta Pág. 439 / 1080

«- É de facto a mesma coisa - murmurou o joalheiro. - E no fim de contas a história pode ser verdadeira, por mais inverossímil que pareça à primeira vista. Só falta ajustarmos portanto o preço, acerca do qual não estamos de acordo.

«- Como é que não estamos de acordo? - interveio Caderousse. - Julgava que tinha aceitado o preço que lhe pedi...

«- Não - redarguiu o joalheiro -, eu ofereci quarenta mil francos.

«- Quarenta mil! - gritou a Carconte. - Escusa de esperar que lho vendamos por esse preço. O abade disse-nos que valia cinquenta mil francos, e sem engaste.

«- E como se chamava esse abade? - perguntou o infatigável curioso.

«- Abade Busoni - respondeu a mulher.

«- Era então um estrangeiro?

«- Era um italiano dos arredores de Mântua, segundo creio.

«- Mostre-me o diamante - pediu o joalheiro. - Quero vê-lo outra vez. Muitas vezes julgam-se mal as pedras à primeira vista.

«Caderousse tirou da algibeira um estojozinho de chagrém preto, abriu-o e passou-o ao joalheiro. Ao ver o diamante, que era do tamanho de uma avelã (lembro-me como se ainda o estivesse a ver), os olhos de Carconte cintilaram de cupidez.

- E que pensou de tudo isso, senhor escutador às portas? - perguntou Monte-Cristo. - Acreditou nessa bela fábula?

- Acreditei, Excelência. Não considerava Caderousse um mau homem e julgava-o incapaz de cometer um crime. Ou mesmo um roubo.

- Isso honra mais o seu coração do que a sua experiência, Sr. Bertuccio. Conheceu esse tal Edmond Dantès a que se referiam?

- Não, Excelência, nunca ouvira falar dele até ali, e depois disso só ouvi falar uma vez, ao próprio abade Busoni, quando o vi nas prisões de Nímes.

- Bom, continue.

- O joalheiro tirou o anel das mãos de Caderousse e depois, da algibeira, uma pinça de aço e uma balancinha de cobre. Seguidamente, abriu os grampos de ouro que prendiam a pedra ao anel, extraiu o diamante do seu alvéolo e pesou-o cuidadosamente na balança.

«- Vou até aos quarenta e cinco mil francos - declarou -, não dou nem mais um soldo. De resto, como era esse o valor do diamante, foi exactamente a importância que trouxe comigo.

«- Oh, lá por isso não seja a dúvida - redarguiu Caderousse.

- Voltarei consigo a Beaucaire e dar-me-á lá os cinco mil francos.

«- Não - respondeu o joalheiro, restituindo o anel e o diamante a Caderousse. - Isso não vale mais e já fiz mal em oferecer tal importância, pois a pedra tem um defeito em que não reparei da primeira vez. Mas não importa, só tenho uma palavra; disse quarenta e cinco mil francos e não me desdigo.

«- Ao menos volte a colocar o diamante no anel – pediu azedamente a Carconte.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069