«- A estrada dá uma volta, e ele é obrigado a seguir pela estrada, ao passo que ao longo do canal existe um caminho mais curto.
«- Mulher, tu ofendes Deus! Espera, escuta...
«Com efeito, ouviu-se um formidável trovão, ao mesmo tempo que um relâmpago azulado iluminava toda a sala, e a tempestade, diminuindo lentamente, pareceu afastar-se, como que contrariada, da casa maldita.
«- Jesus! - exclamou a Carconte, benzendo-se.
«No mesmo instante, e no meio do silêncio aterrorizado que se segue habitualmente a uma trovoada, ouviu-se bater à porta.
Caderousse e a mulher estremeceram e entreolharam-se assustados.
«- Quem é? - gritou Caderousse, levantando-se e reunindo num só monte o ouro e as notas espalhadas em cima da mesa, e que cobriu com ambas as mãos.
«- Sou eu! - respondeu uma voz
«- Eu, quem?
«- Por Deus! Joannès, o joalheiro!
«- Que dizias tu? Que ofendia Deus?.. observou a Carconte, com um sorriso medonho. - Pois aí o tens, e é Deus que no-lo envia!
«Caderousse deixou-se cair, pálido e arquejante, na sua cadeira. A Carconte, pelo contrário, levantou-se e dirigiu-se com passo firme para a porta. que abriu.
«- Entre, caro Sr. Joannès - disse.
«- Dir-se-ia, palavra, que parece que o Diabo não quer que regresse esta noite a Beaucaire - observou o joalheiro, escorrendo água por todos os lados. - As asneiras mais pequenas são as melhores, meu caro Sr. Caderousse. Ofereceu-me hospitalidade; aceito-a e volto para dormir em sua casa.
«Caderousse balbuciou algumas palavras e enxugou o suor que lhe escorria da testa. A Carconte voltou a fechar a porta atrás do joalheiro e deu duas voltas à chave.