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Capítulo 48: Ideologia

Página 478

- Mas com que fim aprendeu tudo isso? - perguntou Villefort, atónito.

Monte-Cristo sorriu.

- Vejo, senhor - respondeu -, que, a despeito da sua reputação de homem superior, encara todas as coisas do ponto de vista material e vulgar da sociedade, começando no homem e acabando no homem, isto é, do ponto de vista mais restrito e mesquinho que é permitido à inteligência humana abarcar.

- Explique-se, senhor - pediu Villefort, cada vez mais atónito - pois não o compreendo... muito bem.

- Digo, senhor, que com os olhos postos na organização social das nações só se vê as engrenagens da máquina e não o operário sublime que a faz andar; digo que só reconhece na sua frente e à sua volta os titulares dos cargos cujas nomeações foram assinadas por ministros ou por um rei, e que os homens, que Deus colocou acima dos titulares, dos ministros e dos reis, dando-lhes uma missão para continuar em vez de um cargo para preencher, digo que esses escapam à sua curta vista. Aliás, isso é próprio da natureza humana, cujos órgãos são fracos e imperfeitos. Tobias tomava o anjo que vinha restituir-lhe a vista por um jovem vulgar. As nações tomavam Átila, que as devia aniquilar, por um conquistador como todos os conquistadores, e foi necessário que ambos revelassem as suas missões celestes para que os reconhecessem; foi necessário que um dissesse: «Eu sou o anjo do Senhor»; e o outro: «Eu sou o flagelo de Deus», para que a essência divina de ambos se revelasse.

- Então, o senhor considera-se um desses seres extraordinários que acaba de citar? - perguntou Villefort, cada vez mais espantado e julgando falar com um iluminado ou um louco.

- Por que não? - redarguiu friamente Monte-Cristo.

- Perdão, senhor - prosseguiu Villefort, atordoado - mas espero que me desculpe o facto de, ao apresentar-me em sua casa, ignorar que entrava em casa de um homem cujos conhecimentos e cuja inteligência excedem de longe os conhecimentos vulgares e a inteligência habitual dos homens. Entre nós não é costume, talvez por sermos uns infelizes corrompidos pela civilização, que os fidalgos possuidores, como o senhor, de uma fortuna imensa, pelo menos ao que se afirma (note que não pergunto, apenas repito), não é costume, dizia, que esses privilegiados da riqueza percam o seu tempo em especulações sociais, em devaneios filosóficos, próprios, quando muito, para consolar aqueles a quem o destino deserdou de bens terrenos.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 478

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069