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Capítulo 48: Ideologia

Página 479

- Então, senhor, terá porventura chegado à situação eminente que ocupa sem ter admitido, e mesmo sem ter encontrado, excepções, nem nunca exercitou o seu olhar, que no entanto bem necessitaria de sagacidade e segurança, a adivinhar num relance que homem tem diante de si? - perguntou o conde. - Um magistrado não deverá ser, não o melhor aplicador da lei, não o mais astuto intérprete das nebulosidades da chicana, mas sim uma sonda de aço para experimentar os corações ou uma pedra-de-toque para ensaiar o ouro de que cada alma é sempre feita, com mais ou menos mistura?

- Confunde-me, senhor - declarou Villefort. - Palavra de honra que nunca ouvi ninguém falar como o senhor.

- Porque tem permanecido constantemente encerrado no círculo das condições gerais e nunca se atreveu a subir, num batimento de asa, às esferas superiores que Deus povoou de seres invisíveis ou excepcionais.

- E o senhor admite que essas esferas existem e que os seres excepcionais e invisíveis se juntam a nós?

- Porque não? O senhor vê o ar que respira e sem o qual não poderia viver?

- Então, não vemos esses seres a que se refere?

- Claro que os vemos quando Deus permite que se materializem; tocamos-lhes, acotovelamo-los, falamos-lhes e eles respondem-nos.

- Ah! - exclamou Villefort, sorrindo. - Confesso que gostaria muito de ser prevenido quando um desses seres se encontrasse em contacto comigo.

- O seu desejo já foi satisfeito, senhor. Foi prevenido há pouco, e mais uma vez agora o previno.

- Assim, o senhor mesmo?...

- Sou um desses seres excepcionais, sim, senhor, e creio que até hoje nenhum homem se encontrou numa posição semelhante à minha. Os reinos dos reis são limitados, quer por montanhas, quer por rios, quer por uma mudança de costumes, quer por uma mutação de linguagem. Mas o meu reino é do tamanho do mundo, pois não sou nem italiano, nem francês, nem hindu, nem americano, nem espanhol; sou cosmopolita. Nenhum país pode dizer que me viu nascer. Só Deus sabe que terra me verá morrer. Adopto todos os usos, falo todas as línguas. Julga-me francês, não é verdade, porque falo o francês com a mesma facilidade e a mesma pureza que o senhor? Pois bem, Ali o meu núbio, julga-me árabe; Bertuccio, o meu intendente, julga-me romano, e Haydée, a minha escrava, julga-me grego. Portanto, como decerto compreende, não pertencendo a nenhum país, não pedindo protecção a nenhum governo e não reconhecendo nenhum homem como meu irmão, nem um só dos escrúpulos que detêm os poderosos ou dos obstáculos que paralisam os fracos me paralisa ou detém. Só tenho dois adversários; não direi dois vencedores, porque com persistência submeto-os: são a distância e o tempo. O terceiro, e o mais terrível, é a minha condição de homem mortal.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 479

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069