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Capítulo 48: Ideologia

Página 480
É a única coisa que me pode deter no caminho que sigo e antes de atingir o alvo que busco; tudo o mais está previsto. Aquilo a que os homens chamam os caprichos do destino, isto é, a ruína, a mudança, as eventualidades, tenho-os todos previstos, e se alguns me podem atingir, nenhum me pode derrubar. A não ser que morra, serei sempre o que sou. Aqui tem porque lhe digo coisas que nunca ouviu, mesmo da boca dos reis, porque os reis necessitam de si e os outros homens temem-no. Quem é que não diz para consigo, numa sociedade tão ridiculamente organizada como a nossa: «Talvez um dia tenha qualquer problema com o procurador régio...»

- Mas o senhor mesmo pode dizer isso a si próprio, porque desde o momento em que reside em França está naturalmente submetido às leis francesas.

- Bem sei, senhor - respondeu Monte-Cristo. - Mas quando tenho de ir a um país, começo por estudar, por meios que me são próprios, todos os homens de quem posso ter alguma coisa a esperar ou a temer, e acabo por os conhecer tão bem e até talvez melhor do que eles se conhecem a si próprios. Daí que o procurador régio, fosse quem fosse, com quem tivesse problemas ficasse certamente mais embaraçado do que eu.

- O que significa - prosseguiu Villefort, com hesitação que, dada a fraqueza da natureza humana, todo o homem, na sua opinião, cometeu... faltas?

- Faltas... ou crimes - respondeu negligentemente Monte-Cristo.

- E que só o senhor, entre os homens que não reconhece como seus irmãos, conforme disse - prosseguiu Villefort, com a voz ligeiramente alterada -, e que só o senhor é perfeito?

- Não, perfeito, não - respondeu o conde. – Apenas impenetrável. Mas mudemos de assunto, senhor, se esta conversa lhe desagrada. Não estou mais ameaçado pela sua justiça do que o senhor o está pela minha vista dupla.

- Não, não, senhor! - disse vivamente Villefort, que sem dúvida temia parecer abandonar o terreno. - Não! Graças à sua brilhante e quase sublime conversação, o senhor elevou-me acima dos níveis correntes; já não conversamos, dissertamos. Ora, deve saber como os catedráticos de Teologia da Sorbona, ou os filósofos nas suas disputas, dizem por vezes uns aos outros cruéis verdades. Supondo que discutimos teologia social e filosofia teológica, dir-lhe-ei isto, por mais rude que seja: meu irmão, sacrifica ao orgulho; está acima dos outros, mas acima de si há Deus.

- Acima de todos, senhor! - respondeu Monte-Cristo em tom tão profundo que Villefort estremeceu involuntariamente. - Tenho o meu orgulho em relação aos homens, serpentes sempre prontas a erguer-se contra aquele que passa por elas sem as esmagar com o pé. Mas deponho este orgulho diante de Deus, que me tirou do nada para fazer de mim o que sou.

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pág. 480 (Capítulo 48)

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 480

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069