E estendeu a mão a Julie, que lhe deu a dela, dominada como estava pelo olhar e pelo tom do conde.
- Mas esse Lorde Wilmore - insistiu a jovem, agarrando-se a uma derradeira esperança - tinha um país, uma família, parentes, era conhecido, enfim? Não poderíamos...
- Oh, desista, minha senhora! - pediu o conde. - Não construa suaves quimeras sobre as palavras que deixei escapar. Não, Lorde Wilmore não é provavelmente o homem que procuram. Era meu amigo, eu conhecia todos os seus segredos e ter-me-ia revelado esse.
- E não lhe disse nada? - perguntou Julie.
- Nada.
- Nunca uma palavra que o pudesse levar a supor...
- Nunca.
- No entanto, o senhor citou-o imediatamente.
- Bom, como sabe num caso assim supõe-se.
- Minha irmã, minha irmã - interveio Maximilien em auxílio do conde -, o Sr. Conde tem razão. Lembra-te do que nos disse tantas vezes o nosso bom pai: não foi um inglês que nos prestou auxílio.
Monte-Cristo estremeceu.
- O seu pai dizia-lhes... Sr. Morrel?... - perguntou vivamente.
- O meu pai, senhor, via naquela acção um milagre. O meu pai acreditava num benfeitor saído por nossa causa do túmulo. Oh, era tão comovente a sua superstição, senhor, que embora eu não acreditasse nela nunca me passou pela cabeça destruir tal crença no seu nobre coração! Quantas vezes devaneava pronunciando baixinho o nome de um amigo perdido; e quando estava prestes a morrer, quando a proximidade da eternidade deu ao seu espírito qualquer coisa da inspiração da sepultura, aquela ideia, que até ali não passara de uma suspeita, transformou-se numa convicção, e as últimas palavras que pronunciou foram estas: «Maximilien, foi Edmond Dantès!»
A palidez do conde, que havia alguns segundos ia aumentando, tornou-se horrível depois destas palavras. Todo o sangue lhe afluíra ao coração e não conseguia falar. Puxou do relógio, como se se tivesse esquecido das horas, pegou no chapéu, apresentou à Sr.ª Herbault um cumprimento brusco e embaraçado e apertou a mão a Emmanuel e Maximilien.
- Minha senhora - disse -, permita-me que venha algumas vezes apresentar-lhe os meus cumprimentos. Gosto da sua casa e estou-lhe grato pelo seu acolhimento, tão agradável que pela primeira vez em muitos anos me esqueci das horas.
E saiu a passos largos.
- É um homem singular, esse conde de Monte-Cristo - disse Emmanuel.
- Pois é - concordou Maximilien -, mas creio que possui um excelente coração e estou certo de que gosta de nós.
- E a mim - disse Julie - a sua voz penetrou-me até ao coração e por duas ou três vezes pareceu-me que não era a primeira vez que a ouvia.