- A sua idade? - continuou Villefort
- Dezanove anos - respondeu Dantès.
- Que fazia quando foi preso?
- Assistia ao banquete do meu próprio noivado, senhor - respondeu Dantès em voz ligeiramente comovida, de tal forma era doloroso o contraste entre esses momentos de alegria e aquela cerimónia lúgubre, de tal forma o rosto sombrio do Sr. de Villefort fazia brilhar em todo o seu esplendor a cara radiante de Mercédès.
- Assistia ao seu banquete de noivado - repetiu o substituto, estremecendo a seu pesar.
- Sim, senhor, estou prestes a casar com uma mulher que amo há três anos.
Villefort, apesar de se mostrar habitualmente impassível, ficou impressionado com a confidência, com a voz comovida de Dantès, surpreendido no meio da sua felicidade, e essa voz fez-lhe vibrar uma fibra simpática no fundo da alma. Também ele se ia casar, também ele era feliz, e acabavam de perturbar a sua felicidade a fim de o levarem a contribuir para a destruição da alegria de um homem que, como ele, tocava já a felicidade.
Este paralelismo filosófico, pensou, produziria grande efeito no seu regresso ao salão do Sr. de Saint-Méran. E compôs antecipadamente no espírito, enquanto Dantès esperava novas perguntas, as palavras antitéticas com o auxílio das quais os oradores constroem essas frases sedentas de aplausos que por vezes fazem crer numa verdadeira eloquência.
Composto o seu pequeno speech interior, Villefort sorriu do efeito e disse, dirigindo-se a Dantès:
- Continue, senhor.
- Que deseja que continue?
- A esclarecer a justiça.
- A justiça que me diga em que ponto deseja ser esclarecida e dir-lhe-ei tudo o que sei. Simplesmente - acrescentou também com um sorriso -, previno-a de que não sei grande coisa.
- Serviu no tempo do usurpador?
- Ia ser incorporado na marinha de guerra quando ele caiu.
- São conhecidas as suas opiniões políticas extremistas - insinuou Villefort, a quem ninguém dissera nada a tal respeito, mas que não achava despropositado afirmá-lo como quem formula uma acusação.
- As minhas opiniões políticas, senhor? Bom, é quase vergonhoso dizê-lo, mas nunca tive o que se chama uma opinião. Tenho apenas dezanove anos, como já tive a honra de lhe dizer; não sei nada, não estou destinado a desempenhar qualquer papel; o pouco que sou e que serei, se me derem o lugar que ambiciono, devê-lo-ei ao Sr. Morrel. Por isso, todas as minhas opiniões, não direi políticas, mas pessoais, limitam-se a estes três sentimentos: amo o meu pai, respeito o Sr. Morrel e adoro Mercédès. Aqui tem, senhor, tudo o que posso dizer à justiça; como vê, é pouco interessante para ela.