O Conde de Monte Cristo - Cap. 52: Toxicologia Pág. 511 / 1080

- Tanto mais, minha senhora - prosseguiu Monte-Cristo -, que os Orientais não se limitam, como Mitridates, a usar os venenos como uma couraça, usam-nos também como um punhal. A ciência transforma-se-lhes nas mãos não só numa arma defensiva, mas também muitas vezes ofensiva. Uma utilizam-na contra os seus sofrimentos físicos, a outra contra os seus inimigos. Com o ópio, com a beladona, com a faisa-angustura, com o pau-de-cobra, com o loureiro-cereja, adormecem para sempre quem querem. Não há uma só dessas mulheres egípcias, turcas ou gregas, daquelas a que chamam aqui mulheres de virtude, que não saiba de química o bastante para embasbacar um médico e de psicologia o suficiente para aterrorizar um confessor.

- Sim?! - exclamou a Sr.ª de Villefort, a quem esta conversa dava aos olhos um brilho estranho.

- Claro que sim, minha senhora continuou Monte-Cristo. – Os dramas secretos do Oriente atam-se e desatam-se assim, desde a planta que faz amar até à planta que faz morrer, desde a beberagem que abre as portas do Céu até àquela que mergulha um homem no Inferno. Existem tantos matizes de todos os géneros como caprichos e extravagâncias na natureza humana, física e moral. Direi mais, a arte desses químicos permite-lhes conciliar admiravelmente o remédio e o mal com as suas necessidades de amor ou os seus desejos de vingança.

- Mas, senhor, essas sociedades orientais no meio das quais passou parte da sua existência são assim tão fantásticas como as histórias que nos vêm desses belos países? - perguntou a jovem senhora. - Um homem pode ser lá suprimido impunemente? É portanto realidade a Bagdade ou a Baçorá de que nos fala Galland? Os sultões e os vizires que dirigem essas sociedades e constituem o que em França chamamos o Governo são realmente Haruns-al-Raschid e Giafares que não só perdoam a um envenenador, como ainda o fazem primeiro-ministro, se o crime foi engenhoso, e neste caso mandam gravar a história em letras de ouro para se divertirem nas horas de aborrecimento?

- Não, minha senhora, o fantástico já não existe no Oriente. Mas existem, embora disfarçados sob outros nomes e ocultos sob outros trajes, comissários de polícia, juízes de instrução, procuradores régios e peritos. Lá também se enforcam, decapitam e empalam com imenso prazer os criminosos. O que acontece é que estes, hábeis como são, sabem despistar a justiça humana e assegurar o êxito dos seus empreendimentos por meio de combinações oportunas.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069