O Conde de Monte Cristo - Cap. 55: O major Cavalcanti Pág. 541 / 1080

- Era mesmo major que eu era? - perguntou timidamente o velho militar.

- Claro que era mesmo major - respondeu Monte-Cristo. - É assim que se designa em França o posto que o senhor ocupava em Itália.

- Bom, não peço mais, compreende?... - disse o lucano.

- Aliás, o senhor não está aqui por sua própria iniciativa - acrescentou Monte-Cristo.

- Oh, evidentemente!

- Foi-me enviado por alguém.

- Pois fui.

- Pelo excelente abade Busoni?

- Exacto! - exclamou o major, satisfeito.

- Não tem uma carta?

- Ei-la!

- Ainda bem. Dê-ma.

E Monte-Cristo pegou na carta, que abriu e leu.

O major olhava o conde com os olhos muito abertos de espanto, com os quais de vez em quando percorria curiosamente cada canto do aposento, mas que regressavam invariavelmente ao dono da casa.

- É isto, de facto... Querido abade! «O major Cavalcanti, um digno patrício de Luca, descendente dos Cavalcanti de Florença» - continuou a ler Monte-Cristo - «e possuidor de uma fortuna que lhe dá meio milhão de rendimento...» Monte-Cristo levantou os olhos por cima do papel e cumprimentou.

- Meio milhão - repetiu. - Apre, meu caro Sr. Cavalcanti!

- Ele diz meio milhão? - perguntou o lucano.

- Com todas as letras. E assim deve ser, pois o abade Busoni é o homem que melhor conhece todas as grandes fortunas da Europa.

- Seja então meio milhão - admitiu o lucano. - Mas palavra de honra que não esperava que ascendesse a tanto.

- Porque tem um intendente que o rouba. Que quer, caro Sr. Cavalcanti, são coisas que se não podem evitar!

- O senhor acaba de me esclarecer - disse gravemente o lucano. - Porei o velhaco na rua.

Monte-Cristo continuou:

-«E a quem só falta uma coisa para ser feliz...»

- Oh, meu Deus, sim, só uma! - reconheceu o lucano, suspirando.

-«Encontrar um filho adorado...»

- Um filho adorado!

- «Raptado na sua juventude, quer por algum inimigo da sua nobre família, quer por ciganos...»

- Com cinco anos de idade, senhor - acrescentou o lucano, com um profundo suspiro e erguendo os olhos ao Céu.

- Pobre pai! - disse Monte-Cristo.

O conde continuou:

-«Restitui-lhe a esperança, restitui-lhe a vida, Sr. Conde, anunciando-lhe que o senhor poderá ajudá-lo a encontrar esse filho que há quinze anos procura em vão...»

O lucano olhou para Monte-Cristo com indefinível expressão de inquietação.

- Pois posso - respondeu Monte-Cristo.

O major endireitou-se.

- Ah, ah! - exclamou. - A carta era então verdadeira até ao fim?

- Tinha alguma dúvida a tal respeito, caro Sr. Bartolomeo?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069