O Conde de Monte Cristo - Cap. 55: O major Cavalcanti Pág. 542 / 1080

- Nenhuma, nenhuma! Como havia de ter? Um homem grave, um homem revestido de carácter religioso como o abade Busoni não se permitiria semelhante brincadeira. Mas não leu tudo, Excelência...

- Ah, é verdade, há um post-scriptum! - disse Monte-Cristo.

- Pois, há... um... post-scriptum... - repetiu o lucano.

-«Para não causar ao major Cavalcanti o embaraço de transferir fundos dos cofres do seu banqueiro, mandei-lhe uma ordem de pagamento de dois mil francos para as suas despesas de viagem e um crédito sobre o senhor de quarenta e oito mil francos, que o Sr. Conde me fica a dever.« O major seguiu com os olhos o post-scriptum, com visível ansiedade.

- Muito bem! - limitou-se a dizer o conde.

- Ele disse «muito bem!» - murmurou o lucano. - Portanto... senhor... - prosseguiu.

- Portanto?... - perguntou o conde.

- Portanto, o post-scriptum?...

- Sim, o post-scriptum?...

- É acolhido pelo senhor tão favoravelmente como o resto da carta?

- Certamente. Temos contas um com o outro, o abade Busoni e eu. Não sei exactamente se lhe estou a dever quarenta e oito mil libras, mas entre nós não fazemos caso de algumas notas a mais ou a menos. Mas vejamos, porque atribuía assim tão grande importância ao post-scriptum, meu caro Sr. Cavalcanti?

- Confesso-lhe - respondeu o lucano - que, cheio de confiança na assinatura do abade Busoni, não me muni doutros fundos. De forma que se esse recurso me faltasse, me encontraria muito embaraçado em Paris.

- Porventura um homem como o senhor se embaraça nalgum lado? observou Monte-Cristo. - Ora deixe-se disso!

- Ora essa, não conhecendo ninguém... - redarguiu o lucano.

- Mas conhecem-no ao senhor.

- Sim, conhecem-me. De forma que...

- Acabe, caro Sr. Cavalcanti! - De forma que... entrega-me essas quarenta e oito mil libras?

- Ao seu primeiro pedido.

O major arregalava os olhos espantado.

- Mas sente-se - disse Monte-Cristo. - Na verdade, não sei onde tenho a cabeça... Deixei-o de pé durante um quarto de hora.

- Não se preocupe.

O major puxou uma cadeira e sentou-se.

- Agora, quer tomar alguma coisa? - perguntou o conde. – Um copo de xerez, de porto ou de alicante?

- De alicante, que é o meu vinho preferido.

- Tenho um excelente. Com um biscoito, não é verdade?

- Com um biscoito, já que insiste.

Monte-Cristo tocou. Baptistin apareceu.

O conde foi ao seu encontro.

- Então?... - perguntou baixinho.

- O rapaz está cá - respondeu o criado de quarto no mesmo tom.

- Bem. Para onde o mandou entrar?

- Para a sala azul, como V. Ex.a ordenou.

- Óptimo. Traga vinho de Alicante e biscoitos.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069