- E como fazer semelhante proposta, sobretudo a uma mulher que não se cansa de salientar à boca cheia o seu desinteresse? - redarguiu Valentine.
- Valentine, o meu amor sempre foi para mim uma coisa sagrada, e como toda a coisa sagrada cobri-o com o véu do meu respeito e encerrei-o no meu coração. Ninguém no mundo, nem mesmo aminha irmã, suspeita da existência deste amor, que não confiei a quem quer que seja. Valentine, permite-me que fale deste amor a um amigo?
Valentine estremeceu.
- A um amigo?... - repetiu. - Oh, meu Deus, Maximilien, tremo só de o ouvir falar assim! A um amigo?... E quem é esse amigo?
- Escute, Valentine: nunca sentiu por ninguém uma dessas simpatias irresistíveis que fazem com que, embora vendo essa pessoa pela primeira vez, julgue conhecê-la há muito tempo, a ponto de perguntar a si própria onde e quando a viu, de forma que, na impossibilidade de se recordar, quer do lugar quer do tempo, acabe por se convencer ter sido num mundo anterior ao nosso e que tal simpatia não passa de uma recordação que desperta?
- Já.
- Pois aí tem o que senti a primeira vez que vi aquele homem extraordinário.
- Um homem extraordinário?...
- Sim.
- Que conhece há muito tempo?
- Apenas há oito ou dez dias.
- E chama seu amigo a um homem que conhece há oito ou dez dias? Oh, Maximilien, julgava-o mais avaro do belo nome de amigo!
- Logicamente tem razão, Valentine. Mas diga o que disser, nada me fará mudar de opinião acerca deste sentimento instintivo. Creio que esse homem estará envolvido em tudo o que me acontecer de bom no futuro, futuro que às vezes o seu olhar profundo parece conhecer e a sua mão poderosa dirigir.
- Trata-se portanto de um adivinho? - perguntou, sorrindo, Valentine.
- Palavra que muitas vezes me sinto tentado a crer que adivinha... o bem, sobretudo - respondeu Maximilien
- Oh, apresente-me esse homem, Maximilien! - pediu Valentine, tristemente. - Quero que me diga se serei amada o suficiente para me sentir recompensada de tudo o que tenho sofrido.
- Pobre amiga! Mas a Valentine conhece-o!
- Eu?
- Sim. é aquele que salvou a vida à sua madrasta e ao filho.
- O conde de Monte-Cristo?
- O próprio.
- Oh, esse nunca poderá ser meu amigo, pois é-o demasiado da minha madrasta! - exclamou Valentine.
- O conde, amigo da sua madrasta, Valentine? O meu instinto não se enganaria a esse ponto. Estou certo de que está enganada.