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Capítulo 58: O Sr. Noirtier de Villefort

Página 567

Àquela linguagem muda ou ininteligível para qualquer outra pessoa respondia ela com toda a sua voz, toda a sua fisionomia, toda a sua alma, de tal forma que se estabeleciam diálogos animados entre a jovem e aquela pretensa argila, em breve transformada em pó, mas que entretanto era ainda um homem de um saber imenso, de uma penetração inaudita e de uma vontade tão forte quanto o pode ser a alma encerrada numa matéria pela qual perdeu o poder de se fazer obedecer.

Valentine resolvera portanto o estranho problema de compreender o pensamento do velho e de fazer-lhe compreender o dela; e, graças a esse estudo, era muito raro que no tocante às coisas correntes da vida ela não interpretasse com exactidão o desejo daquela alma viva ou a necessidade daquele cadáver semi-insensível.

Quanto ao criado, como, tal como dissemos, havia vinte e cinco anos que servia o amo, conhecia tão bem todos os seus hábitos que era raro Noirtier necessitar de lhe pedir qualquer coisa.

Villefort não precisava, porém, da ajuda nem de um nem de outro para entabular com o pai a singular conversa que vinha provocar. Ele próprio, como dissemos, conhecia perfeitamente o vocabulário do velho, e se o não utilizava com mais frequência era por comodismo e indiferença. Deixou portanto Valentine descer ao jardim, mandou Barrois embora e, depois de se sentar à direita do pai, enquanto a Sr.ª de Villefort se sentava à esquerda, começou:

- Senhor, não se admire de Valentine não ter subido connosco e de ter afastado Barrois, porque a conferência que vamos ter é daquelas que se não podem efectuar diante de uma jovem ou de um criado. A Sr.ª de Villefort e eu temos uma comunicação a fazer-lhe.

O rosto de Noirtier permaneceu impassível durante este preâmbulo, ao passo que, pelo contrário, o olhar de Villefort parecia querer penetrar até ao âmago do coração do velho.

- A Sr.ª de Villefort e eu - prosseguiu o procurador régio no seu tom gelado e que parecia nunca admitir contestação - estamos certos de que esta comunicação lhe agradará.

O olhar do velho continuou a permanecer inexpressivo. Limitava-se a escutar.

- Senhor - prosseguiu Villefort -, vamos casar Valentine.

Uma figura de cera não teria ficado mais fria ao ouvir esta notícia do que ficou o semblante do velho.

- O casamento realizar-se-á dentro de três meses - acrescentou Villefort.

O olhar do velho continuou inanimado. A Sr.ª de Villefort tomou por sua vez a palavra e apressou-se a acrescentar:

- Pensámos que esta notícia lhe interessasse, senhor, tanto mais que Valentine sempre pareceu merecer a sua afeição.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 567

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069