O Conde de Monte Cristo - Cap. 62: Os fantasmas Pág. 599 / 1080

Morrel esboçou um sorriso, que mais parecia uma careta, e virou-se para Monte-Cristo, como se lhe suplicasse que o tirasse do embaraço em que se encontrava.

O conde compreendeu-o.

- Minha senhora - respondeu -, porque não me faz antes a mim essa pergunta?

- Porque consigo, senhor - declarou a baronesa -, não temos o direito de desejar seja o que for, pois estamos demasiado certas de o obter. Por isso me dirigi ao Sr. Morrel.

- Infelizmente - prosseguiu o conde -, sou testemunha de que o Sr. Morrel não pode ceder o seu cavalo, pois deu a sua palavra de honra de que o conservaria.

- Como assim?

- Apostou que domaria Médéah no espaço de seis meses. Compreende agora, baronesa, que se se desfizesse dele antes do prazo fixado na aposta não só o perderia como ainda diriam que tinha medo? Ora um capitão de sipaios não pode, mesmo para satisfazer um capricho de uma mulher bonita, na minha opinião uma das coisas mais sagradas deste mundo, deixar que se espalhe semelhante boato.

- Como vê, minha senhora... - disse Morrel, dirigindo a Monte-Cristo um sorriso de reconhecimento.

- De resto, parece-me - interveio Danglars num tom desabrido mal disfarçado por um sorriso forçado - que a senhora já tem, cavalos de sobra.

Não estava nos hábitos da Sr.ª Danglars deixar passar semelhantes ataques sem ripostar, e no entanto, com grande admiração dos mais novos, fingiu não ouvir e não respondeu nada.

Monte-Cristo sorriu do seu silêncio, que denotava uma humildade desacostumada, e mostrou à baronesa dois enormes vasos de porcelana da China sobre os quais serpenteavam vegetações marinhas de um tamanho e de um trabalho tais que só à natureza era dado possuir tanta riqueza, tanta seiva e tanta espiritualidade.

A baronesa estava maravilhada.

- Pois sim, mas noutras mãos plantar-lhes-iam lá dentro um castanheiro das Tulherias! - observou. - Como terá sido possível cozer alguma vez semelhantes enormidades?

- Minha senhora, não devemos fazer tal pergunta a nós próprios, fabricantes de estatuetas e de vidro despolido com desenhos transparentes; neste caso, trata-se de uma obra doutros tempos, de uma espécie de criação de génios da terra e do mar.

- Explique-se melhor. De que época são estes vasos?

- Não sei. Apenas ouvi dizer que o imperador da China mandou fazer um forno de propósito; que nesse forno, um após outro, se cozeram doze vasos idênticos a estes; que dois se quebraram devido ao calor excessivo do lume, e que os restantes dez foram descidos a trezentas braças no fundo do mar. Mar que, sabendo o que se pretendia dele, lançou sobre os vasos as suas lianas, torceu os seus corais e incrustou as suas conchas.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069