- Tenho a certeza de que sou o primeiro a chegar! - gritou-lhe Morrel. - Vim propositadamente mais cedo para o ter um instante para mim só, antes de toda a gente. Julie e Emmanuel mandam-lhe milhões de cumprimentos. Ah! Sabe que tudo isto aqui é magnífico? Diga-me uma coisa, conde: a sua gente cuidará do meu cavalo como deve ser?
- Esteja tranquilo, meu caro Maximilien, eles sabem o que fazem.
- É que ele precisa de ser esfregado com palha. Se visse o andamento que trouxe! Uma verdadeira tromba!
- Acredito. Nem outra coisa era de esperar de um cavalo de cinco mil francos! - redarguiu Monte-Cristo, no tom em que um pai falaria a um filho.
- Lamenta-os? - perguntou Morrel, com um sorriso franco.
- Eu? Deus me defenda! - respondeu o conde. - Não. Só lamentaria que o cavalo não fosse bom.
- É tão bom, meu caro conde, que o Sr. de Château-Renaud, o homem mais conhecedor de França, e o Sr. Debray, que monta os árabes do ministério, correm atrás de mim neste momento, um pouco distanciados, como vê, e ainda são seguidos pelos cavalos da baronesa Danglars, que vêm num trote que lhes permite percorrer com facilidade as suas seis léguas por hora.
- Seguem-no, então? - perguntou Monte-Cristo.
- Olhe, aí os tem!
Com efeito, naquele preciso momento um cupé com a parelha toda fumegante e dois cavalos de sela já sem fôlego chegavam diante do portão da casa, que se abriu diante deles. O cupé descreveu imediatamente o seu círculo e foi parar diante da escadaria, seguido dos dois cavaleiros.
Num instante, Debray desmontou e chegou à portinhola. Ofereceu a mão à baronesa, que ao descer lhe fez um sinal imperceptível para todos, excepto para Monte-Cristo.
Mas o conde não perdia nada, e naquele gesto viu brilhar um bilhetinho branco, tão imperceptível como o sinal, e que passou, com uma facilidade que indicava o hábito de semelhante manobra, da mão da Sr.ª Danglars para a do secretário do ministro.
Atrás da mulher desceu o banqueiro, pálido como se saísse do sepulcro em vez de sair do seu cupé. A Sr.ª Danglars lançou à sua volta um olhar rápido e investigador, que Monte-Cristo foi o único a compreender, e no qual abarcou o pátio, o peristilo e a fachada da casa.
Depois, reprimindo uma leve emoção, que sem dúvida se lhe reflectiria no rosto se fosse permitido ao seu rosto empalidecer, subiu a escadaria ao mesmo tempo que dizia a Morrel:
- Se o senhor fosse um dos meus amigos, perguntar-lhe-ia se o seu cavalo está à venda.