- Pois bem, estou certo de que em tão pouco tempo sofreu uma transformação completa. Se me não engano, ela tinha outra entrada como esta e o pátio estava calcetado e vazio, enquanto que hoje tem um magnífico relvado orlado de árvores que parecem centenárias.
- Que quer, aprecio a verdura e a sombra -respondeu Monte-Cristo.
- Com efeito - interveio a Sr.ª de Villefort -, dantes entrava-se por uma porta que dava para a estrada, e no dia da minha milagrosa salvação foi pela estrada, recordo-me, que o senhor me trouxe para casa.
- É verdade, minha senhora - confirmou Monte-Cristo. – Mas depois preferi uma entrada que me permite ver o Bosque de Bolonha através do portão.
- Em quatro dias, é um prodígio! - exclamou Morrel.
- De facto - disse Château-Renaud -, transformar uma casa velha numa casa nova é coisa miraculosa. Porque ela era muito velha e até muito triste. Recordo-me de ter sido encarregado pela minha mãe de a visitar quando o Sr. de Saint-Méran a pôs à venda, há dois ou três anos.
- O Sr. de Saint-Méran? - admirou-se a Sr.ª de Villefort. - Mas esta casa pertencia ao Sr. de Saint-Méran antes de o senhor a comprar?
- Parece que sim - respondeu Monte-Cristo.
- Parece?... Não sabe a quem a comprou?
- Palavra que não. É o meu intendente que se ocupa de todos esses pormenores.
- É certo que havia dois anos, pelo menos, que não era habitada - prosseguiu Château-Renaud -, e causava uma grande tristeza vê-la com as persianas fechadas, as portas trancadas é o pátio cheio de ervas. Na verdade, se não tivesse pertencido ao sogro de um procurador régio poder-se-ia tomá-la por uma dessas casas malditas onde se cometeu qualquer crime.
Villefort, que até ali não tocara nos três ou quatro copos de vinhos extraordinários colocados diante de si, pegou num ao acaso e bebeu-o de um só trago.
Monte-Cristo deixou passar um instante. Depois, no meio do silêncio que se seguiu às palavras de Château-Renaud, disse:
- É estranho, Sr. Barão, mas tive o mesmo pensamento da primeira vez que cá entrei. A casa pareceu-me tão lúgubre que nunca a teria comprado se o meu intendente a não tivesse adquirido por mim. Provavelmente, o maroto recebeu algumas «luvas» do tabelião...
- É provável - balbuciou Villefort, tentando sorrir. – Mas acredite que não meti prego nem estopa nesse suborno. O Sr. De Saint-Méran quis que esta casa, que faz parte do dote da neta, fosse vendida porque, se permanecesse mais três ou quatro anos desabitada, cairia em ruínas.
Foi a vez de Morrel empalidecer.