- Que faz a minha filha? - perguntou a Sr.ª Danglars.
- Estudou toda a noite e em seguida foi-se deitar - respondeu Mademoiselle Cornélie.
- No entanto, parece-me que ouço o seu piano...
- É Mademoiselle Louise de Armilly que toca enquanto a menina está deitada.
- Bem, venha despir-me - ordenou a Sr.ª Danglars.
Entraram no quarto. Debray estendeu-se num grande canapé e a Sr.ª Danglars dirigiu-se para o seu quarto de vestir com Mademoiselle Cornélie.
- Meu caro Sr. Lucien - disse a Sr.ª Danglars através da porta do quarto de vestir -, porque está sempre a queixar-se de que Eugénie não lhe dá a honra de lhe dirigir a palavra?
- Minha senhora - respondeu Lucien, brincando com o cãozinho da baronesa, o qual, reconhecendo a sua qualidade de amigo da casa, tinha o hábito de lhe fazer mil carícias -, não sou o único que lhe faço semelhantes recriminações.
Creio ter ouvido um dia destes Morcerf queixar-se a si mesmo de que não conseguia arrancar uma única palavra à noiva.
- É verdade - reconheceu a Sr.ª Danglars. - Mas creio que uma destas manhãs tudo isso mudará e verá entrar Eugénie no seu gabinete.
- No meu gabinete?
- Quero dizer, no do ministério.
- E porquê?
- Para lhe pedir um contrato para a ópera! Na verdade, nunca vi tal entusiasmo pela música. Chega a ser ridículo numa pessoa da sociedade.
Debray sorriu.
- Bom, desde que apareça com o seu consentimento e o do barão, arranjar-lhe-emos esse contrato e procuraremos que esteja de acordo com o seu mérito, embora sejamos muito pobres para pagar tão grande talento como o dela.
- Pode ir, Cornélie, já não preciso de si - disse a Sr.ª Danglars.
Cornélie saiu e pouco depois a Sr.ª Danglars saiu também do quarto de vestir num elegante négligé e foi sentar-se ao pé de Lucien.
Depois, pensativa, pôs-se a afagar o petit-épagneul.
Lucien olhou-a um instante em silêncio.
- Vejamos, Hermine, responda francamente: que é que a preocupa? - perguntou por fim.
- Nada - respondeu a baronesa.
E no entanto, como sufocasse, levantou-se, tentou respirar e foi ver-se ao espelho.
- Estou medonha, esta noite - declarou.
Debray ia a levantar-se, sorrindo, para ir tranquilizar a baronesa a tal respeito, quando a porta se abriu de súbito.
O Sr. Danglars entrou. Debray voltou a sentar-se.
Ao ouvir o barulho da porta, a Sr.ª Danglars virou-se e olhou o marido com um espanto que nem sequer se incomodou a dissimular.
- Boas noites, minha senhora. Boas noites, Sr. Debray.