O Conde de Monte Cristo - Cap. 67: No gabinete do Procurador Régio Pág. 643 / 1080

» Durante o Verão, a erva crescera ali bem espessa, e chegado o Outono ninguém houvera na casa para a apanhar. No entanto, um sitio menos guarnecido chamou-me a atenção. Era evidente que fora ali que eu revolvera a terra. Deitei mãos à obra.

» Chegara portanto o momento por que esperara mais de um ano!

» Como confiava, como trabalhava, como sondava cada tufo de relva, julgando sentir resistência na ponta da enxada! Mas nada. E contudo abri um buraco duas vezes maior do que o primeiro. Julguei ter-me enganado no lugar. Orientei-me, observei as árvores, procurei reconhecer os pormenores que me tinham impressionado. Soprava uma brisa fria e cortante através dos ramos nus e no entanto o suor escorria-me da testa. Lembrei-me de que recebera a punhalada no momento em que calcava a terra para tapar a cova; para isso, apoiava-me numa giesteira. Atrás de mim havia um rochedo artificial destinado a servir de banco aos passeantes. Ao cair, depois de largar a giesteira, a minha mão sentira a frescura da pedra. À minha direita encontrava-se a giesteira e atrás de mim o rochedo. Deixei-me cair do mesmo modo, levantei-me e pus-me a aprofundar e alargar a cova. Nada! Sempre nada! O cofre não estava ali.

- O cofre não estava ali? - murmurou a Sr.ª Danglars, sufocada de pavor.

- Não julgue que me limitei àquela tentativa - continuou Villefort. - Não. Revistei todo o maciço. Pensei que o assassino tivesse desenterrado o cofre julgando tratar-se de um tesouro, e que, resolvido a apoderar-se dele, o tivesse levado. Depois, descobrindo o seu erro, abrira por sua vez uma cova, onde o depositara. Nada! Em seguida assaltou-me a ideia de que não tomara tantas precauções e o atirara pura e simplesmente para um canto. Nesta última hipótese, tinha de esperar que amanhecesse para proceder às minhas buscas. Subi ao quarto e esperei.

- Oh, meu Deus!

- Quando amanheceu, desci de novo. A minha primeira visita foi ao maciço; esperava encontrar nele vestígios que me tivessem escapado na escuridão. Revolvera a terra numa superfície de mais de vinte pés quadrados e numa profundidade de mais de dois pés. Um dia de trabalho mal chegaria a um assalariado para fazer o que eu fizera numa hora. Nada, não vi absolutamente nada.

» Então, pus-me a procurar o cofre, partindo da suposição de ter sido atirado para qualquer canto. Sendo assim, devia estar no caminho que levava à portinha de saída. Mas a nova investigação foi tão inútil como a primeira e, de coração opresso, voltei ao maciço, que por si próprio já me não alimentava qualquer esperança.

- Oh, era caso para enlouquecer! - exclamou a Sr.ª Danglars.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069