O Conde de Monte Cristo - Cap. 67: No gabinete do Procurador Régio Pág. 646 / 1080

- Mas observou-o atentamente algumas vezes?

- Sem dúvida. É estranho, mas mais nada. Houve só uma coisa que me impressionou: de toda a requintada refeição que nos serviu não tocou em nada, não se serviu de nenhum prato.

- Tem razão, tem razão! - disse Villefort. - Também notei isso. Se soubesse o que sei agora, teria feito o mesmo, não tocaria em nada. Julgaria que nos queria envenenar.

- E ter-se-ia enganado, bem vê.

- Sim, sem dúvida. Mas acredite no que lhe digo: esse homem tem outros projectos. Por isso quis vê-la, por isso desejei falar consigo, por isso quis precavê-la contra toda a gente, mas sobretudo contra ele. Diga-me - continuou Villefort, cravando ainda mais profundamente do que até ali os olhos na baronesa -, não falou da nossa ligação a ninguém?

- Nunca, a ninguém.

- Compreende o que quero dizer - prosseguiu afectuosamente Villefort -, quando digo a ninguém, perdoe-me a insistência, refiro-me a ninguém no mundo, percebe?

- Oh, sim, sim, compreendo perfeitamente! - respondeu a baronesa, corando. - Nunca! Juro-lhe.

- Já não tem o hábito de escrever à noite o que se passou durante o dia? Já não tem diário?

- Não. Infelizmente, a minha vida passa levada pela frivolidade. Eu própria a esqueço.

- Não sonha em voz alta, que saiba?

- Durmo como uma criança. Já não se lembra?...

A púrpura subiu ao rosto da baronesa e o medo invadiu o de Villefort

- É verdade - disse ele, tão baixo que mal se ouviu.

- E agora? - perguntou a baronesa.

- Agora? Já sei o que devo fazer - declarou Villefort. - Dentro de oito dias, saberei quem é o Sr. de Monte-Cristo, donde vem, para onde vai e por que motivo fala diante de nós de crianças desenterradas no seu jardim.

Villefort proferiu estas palavras num tom que faria tremer o conde se as pudesse ouvir.

Depois apertou a mão que a baronesa hesitava em estender-lhe e acompanhou-a respeitosamente à porta.

A Sr.ª Danglars tomou outro fiacre, que a levou à passagem, do outro lado da qual encontrou a sua carruagem e o seu cocheiro, que, enquanto esperava, dormia calmamente no seu lugar.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069