- Portanto, o Sr. Danglars jantou em sua casa?
- Jantou.
- Com o seu visconde Andrea Cavalcanti?
- Com o visconde Andrea Cavalcanti, o marquês seu pai, a Sr.ª Danglars, o Sr. e a Sr.ª de Villefort, pessoas encantadoras, o Sr. Debray, Maximilien Morrel e ainda... espere... Ah, o Sr. de Château-Renaud!
- Falaram de mim?
- Nem uma palavra.
- Tanto pior.
- Porquê? Se o esqueceram, parece-me que, procedendo assim, fizeram apenas o que o senhor desejava...
- Meu caro conde, se ninguém falou de mim foi porque pensaram muito na minha pessoa, o que me deixa desesperado.
- Que lhe interessa isso, se Mademoiselle Danglars não foi uma das pessoas que pensaram em si em minha casa? Verdade seja que podia pensar em casa dela...
- Oh, quanto a isso não, tenho a certeza! Ou se pensasse seria certamente da mesma maneira que penso nela.
- Comovente simpatia! - comentou o conde. - Então detestam-se?
- Escute - pediu Morcerf. - Se Mademoiselle Danglars fosse mulher que se compadecesse do mártir que não está disposto a sofrer por ela e me quisesse recompensar disso à margem das convenções matrimoniais estabelecidas entre as nossas duas famílias, seria maravilhoso. Em resumo, creio que Mademoiselle Danglars daria uma amante encantadora, mas como esposa, diabo...
- É assim que encara o seu futuro? - perguntou Monte-Cristo, rindo.
- Meu Deus, é! De forma um pouco brutal, confesso, mas pelo menos verdadeira. Ora, como não é possível transformar este sonho em realidade; como para chegar a determinado fim, é indispensável que Mademoiselle Danglars seja minha mulher, isto é, que viva comigo, que pense junto de mim, que cante ao pé de mim, que escreva versos e música a dez passos de mim, e isso durante toda a minha vida, apavora-me. Uma amante, meu caro conde, deixa-se; mas uma mulher, com a breca, é outra coisa! Conserva-se eternamente, perto ou longe. Ora, é horrível ter de conservar sempre Mademoiselle Danglars, mesmo longe.
- O senhor é muito exigente, visconde.
- Pois sou, porque muitas vezes penso numa coisa impossível.
- Qual?
- Encontrar para mim uma mulher como o meu pai encontrou uma para ele.
Monte-Cristo empalideceu e fitou Albert, sem deixar de brincar com umas pistolas magníficas cuja fecharia percutia rapidamente.
- O seu pai tem sido portanto muito feliz? - perguntou.
- Sabe a minha opinião acerca de minha mãe, Sr. Conde: um anjo do Céu. Vejo-a ainda bonita, espiritual, cada vez melhor do que nunca. Venho de Tréport; para qualquer outro filho, meu Deus, acompanhar a mãe seria uma condescendência ou um frete!