Albert beijou a mão da mãe e foi postar-se junto do conde. Passou outra bandeja, carregada como as precedentes. A condessa viu Albert insistir com o conde, tirar mesmo um gelado e oferecer-lho, mas ele recusar obstinadamente. Albert voltou para junto da mãe. A condessa estava muito pálida.
- Como viste, recusou.
- É verdade, mas em que é que isso a pode preocupar?
- Como sabes, Albert, as mulheres têm manias singulares.
Teria visto com prazer o conde tomar qualquer coisa em minha casa, nem que fosse um bago de romã. Mas talvez não se adapte aos costumes franceses, talvez prefira outras coisas...
- Meu Deus, não! Na Itália vi-o tomar de tudo. Sem dúvida está maldisposto esta noite.
- Achas que tendo residido sempre em climas quentes, será menos sensível ao calor do que as outras pessoas? - perguntou a condessa.
- Não creio, pois queixava-se de que asfixiava e perguntava por que motivo, visto já se terem aberto as janelas, não se abriam também as persianas.
- Com efeito - disse Mercédès -, é um meio de me assegurar se a sua abstinência é alguma atitude preconcebida...
E saiu do salão.
Pouco depois, as persianas abriram-se e todos puderam ver, através dos jasmins e das clematites que guarneciam as janelas, todo o jardim iluminado com lanternas e a ceia servida debaixo da tenda.
Dançarinos e dançarinas, jogadores e conversadores soltaram um grito de alegria. Todos aqueles pulmões ávidos aspiravam com delícia o ar que entrava a jorros.
Ao mesmo tempo, Mercédès reapareceu, mais pálida do que saíra, mas com a serenidade de rosto que era notável nela em determinadas circunstâncias. Foi direita ao grupo de que o marido era o centro e disse-lhe:
- Não retenha estes cavalheiros aqui, Sr. Conde. Se não jogam, de certo preferirão tomar ar no jardim a abafar cá dentro.
- Mas, minha senhora - interveio um velho general muito galante, que cantara Partamos para a Síria! em 1809 -, não iremos sozinhos para o jardim...
- Seja, estou pronta a dar o exemplo - respondeu Mercédès.
E virando-se para Monte-Cristo:
- Sr. Conde, quer dar-me a honra de me oferecer o seu braço? O conde quase cambaleou ao ouvir estas simples palavras.
Em seguida fitou um momento Mercédès. Esse momento teve a rapidez do relâmpago e no entanto pareceu à condessa ter durado um século, tantos pensamentos pusera Monte-Cristo nesse único olhar.
Ofereceu o braço à condessa. Esta apoiou-se nele ou, para melhor dizer, aflorou-o com a sua mãozinha, e ambos desceram uma das escadas adornadas de rododendros e camélias.
Atrás deles, e pela outra escada, correram para o jardim, soltando ruidosas exclamações de prazer, cerca de vinte convidados.