O Conde de Monte Cristo - Cap. 73: A promessa Pág. 690 / 1080

Como é fácil de compreender, Morrel encontrava-se num estado de agitação que não podia escapar a um olhar tão penetrante como era o do conde. Por isso, Monte-Cristo foi para com ele mais afectuoso do que nunca; tão afectuoso que por duas ou três vezes Maximilien esteve prestes a contar-lhe tudo.

Recordou-se, porém, da promessa formal feita a Valentine e o seu segredo permaneceu-lhe no fundo do coração.

O jovem releu vinte vezes durante o dia a carta de Valentine.

Era a primeira vez que ela lhe escrevia e logo naquelas circunstâncias. Todas as vezes que relia a carta, Maximilien renovava a si mesmo o juramento de tornar Valentine feliz. Com efeito, que autoridade não tem a rapariga que toma uma resolução tão corajosa! Que dedicação não merece da parte daquele a quem tudo sacrifica! Como deve ser realmente para o seu apaixonado o primeiro e mais digno objecto do seu culto! É simultaneamente rainha e mulher e um coração não basta para lhe agradecer e para a amar.

Morrel pensava com inexprimível agitação no momento em que Valentine chegaria e diria: “Aqui estou, Maximilien, sou tua!”

Organizara pormenorizadamente a fuga: escondera duas escadas na luzerna do cercado; esperava-os um cabriolé, que o próprio Maximilien conduziria; nada de criados, nada de luzes; só virada a esquina da primeira rua acenderiam as lanternas, a fim de evitarem, por um excesso de precauções, cair nas mãos da Polícia.

De vez em quando todo o corpo de Morrel era percorrido por arrepios. Pensava no momento em que, do cimo do muro, protegeria a descida de Valentine e em que sentiria trémula e abandonada nos seus braços aquela a quem nunca apertara mais do que a mão e beijara a ponta dos dedos.

Mas quando chegou a tarde, quando Morrel sentiu aproximar-se a hora, experimentou a necessidade de estar só. O sangue fervia-lhe, as simples perguntas ou até apenas a voz de um amigo tê-lo-iam irritado. Fechou-se no seu quarto e tentou ler; mas o seu olhar deslizou pelas páginas sem nada compreender do que nelas estava escrito, e acabou por largar o livro para voltar a desenhar pela segunda vez o seu plano, as suas escadas e o seu terreno.

Por fim a hora aproximou-se.

Nunca um homem deveras apaixonado deixou os relógios marcarem tranquilamente o tempo. Morrel atormentou de tal forma os seus que eles acabaram por marcar oito e meia às seis horas. Disse então para consigo que era tempo de ir, que nove horas era efectivamente a hora da assinatura do contrato, mas que segundo todas as probabilidades, Valentine não esperaria por essa assinatura inútil, e depois de tudo isto Morrel cometeu a proeza de partir da Rua Meslay às oito e meia no seu relógio de sala e entrar no cercado quando davam oito horas em S. Filipe do Rouie!





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069