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Capítulo 73: A promessa

Página 698

E foi então que o conhecimento que adquirira através de Valentine da planta interior da casa lhe serviu. Chegou sem novidade ao cimo da escada, e como, uma vez lá chegado, procurasse orientar-se, um soluço que reconheceu indicou-lhe o caminho que devia seguir. Virou-se. Uma porta entreaberta deixava chegar até ele o reflexo de uma luz e o som da voz que gemia. Empurrou essa porta e entrou.

Ao fundo de uma alcova, debaixo do lençol branco que lhe cobria a cabeça e lhe desenhava a forma, jazia a morta, mais assustadora ainda aos olhos de Morrel depois da revelação do segredo de que o acaso o tornara possuidor.

Ao lado da cama, de joelhos, com a cabeça escondida nas almofadas de uma grande poltrona, Valentine, trémula e agitada pelos soluços, estendia por cima da cabeça, que se não via, as mãos juntas e hirtas.

Deixara a janela, que ficara aberta, e rezava em voz alta num tom que comoveria o coração mais insensível. As palavras safam-lhe dos lábios, rápidas, incoerentes, ininteligíveis, de tal forma a dor lhe apertava a garganta com os seus tentáculos ardentes.

O luar, insinuando-se através da abertura das persianas, tornava mais pálida a luz da vela e cobria de tons fúnebres aquele quadro desolador.

Morrel não pôde resistir àquele espectáculo. Não era de uma devoção exemplar nem era fácil de impressionar, mas Valentine a sofrer, a chorar, a torcer os braços na sua presença, era mais do que podia suportar em silêncio. Soltou um suspiro, murmurou um nome e a cabeça imersa em lágrimas e contrastante com o veludo da poltrona, uma cabeça de Madalena, de Correggio, ergueu-se e ficou virada para ele.

Valentine viu-o e não demonstrou qualquer surpresa. Não existem emoções intermédias num coração ocupado por um desespero supremo.

Morrel estendeu a mão à amiga. Como única desculpa de não ter ido ao seu encontro, Valentine indicou-lhe o cadáver jacente sob o lençol fúnebre e recomeçou a soluçar.

Nem um nem outro ousava falar naquele quarto. Ambos hesitavam em quebrar aquele silêncio que parecia imposto pela Morte, de pé em qualquer canto e com o dedo nos lábios.

Por fim, Valentine foi a primeira a aventurar-se.

- Amigo, como está aqui? - perguntou. - Dir-lhe-ia «seja bem-vindo», se não fosse a Morte quem lhe abriu a porta desta casa.

- Valentine - disse Morrel com voz trémula e de mãos juntas -, esperei-a desde as oito e meia. Como a não visse vir, inquietei-me, saltei o muro e penetrei no jardim. Então, vozes que falavam do fatal acidente...

- Que vozes? - perguntou Valentine.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 698

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069