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Capítulo 73: A promessa

Página 697

Afastaram-se.

Morrel, como se tivesse necessidade de respirar, deitou a cabeça fora do arvoredo e a Lua iluminou-lhe o rosto tão pálido que o poderiam tomar por um fantasma.

- Deus protege-me de uma evidente mas terrível forma - murmurou. - Mas Valentine, Valentine, pobre amiga, resistirá ela a tanto sofrimento?

À medida que proferia estas palavras, olhava alternadamente as janelas dos cortinados vermelhos e as três janelas de cortinados brancos.

A luz desaparecera quase completamente da janela dos cortinados vermelhos. Sem dúvida a Sr.ª de Villefort acabava de apagar o candeeiro e a lamparina mal se reflectia nos vidros.

Na extremidade do edifício, pelo contrário, viu abrir uma das três janelas de cortinados brancos. Uma vela colocada na chaminé projectou no exterior alguns raios da sua luz pálida e uma sombra veio por instantes à varanda.

Morrel estremeceu; parecia-lhe ter ouvido um soluço.

Não era de admirar que aquela alma, habitualmente tão corajosa e tão forte, mas agora perturbada e exaltada pelas duas mais fortes paixões humanas, o amor e o medo, tivesse enfraquecido ao ponto de sofrer alucinações supersticiosas.

Embora fosse impossível, oculto como estava, que o olhar de Valentine o distinguisse, julgou ser chamado pela sombra da janela; o seu espírito perturbado dizia-lho e o seu coração ardente repetia-lho. Este duplo erro transformou-se numa realidade irresistível e, por um desses incompreensíveis impulsos da juventude, Morrel saltou para fora do seu esconderijo e em duas passadas, com risco de ser visto, de assustar Valentine e de esta dar o alarme por meio de algum grito involuntário, transpôs o jardim, que o luar tornava amplo e branco como um lago, e, depois de alcançar o renque de laranjeiras que se estendia diante da casa, atingiu os degraus da escadaria, que subiu rapidamente, e empurrou a porta, que se abriu sem resistência diante dele.

Valentine não o vira. Os seus olhos erguidos para o céu seguiam uma nuvem prateada que deslizava no azul e cuja forma era a de um fantasma a subir ao céu. O seu espírito exaltado segredava-lhe que era a alma da avó.

Entretanto, Morrel atravessara a antecâmara e encontrara o corrimão da escada. A passadeira que cobria os degraus abafava-lhe os passos. Aliás, Morrel chegara a tal ponto de exaltação que nem a presença do próprio Villefort o teria assustado. Se Villefort lhe aparecesse, a sua resolução estava tomada: aproximar-se-ia dele, confessar-lhe-ia tudo e pedir-lhe-ia desculpa e que aprovasse aquele amor que o ligava à filha e a filha a ele. Morrel estava louco.

Por sorte, não encontrou ninguém.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 697

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069