O Conde de Monte Cristo - Cap. 73: A promessa Pág. 700 / 1080

- Cautela, Valentine - aconselhou Morrel, hesitando em fazer o que a jovem lhe ordenava. - Cautela! A venda caiu-me dos olhos e vindo aqui pratiquei um acto de demência. Está bem certa do que vai fazer, querida amiga?

- Estou - respondeu Valentine - e só tenho um escrúpulo no mundo: deixar sós os restos mortais da minha pobre avó, que me encarreguei de velar.

- Valentine, a morte é sagrada por si mesma - observou Morrel.

- Pois é - concordou a jovem. - De resto, a ausência será curta. Venha.

Valentine atravessou o corredor e desceu uma escadinha que levava aos aposentos de Noirtier. Morrel seguiu-a em bicos de pés. Chegados ao patamar dos aposentos, encontraram o velho criado.

- Barrois, feche a porta e não deixe entrar ninguém - ordenou-lhe Valentine.

Foi a primeira a entrar.

Noirtier, ainda na sua poltrona, atento ao mais pequeno ruído, informado pelo seu velho criado de tudo o que se passava, olhava ansiosamente para a entrada do quarto. Viu Valentine e os seus olhos brilharam.

Havia no andar e na atitude da jovem algo de grave e solene que impressionou o velho. Por isso, de brilhantes que estavam os seus olhos, tornaram-se interrogadores.

- Querido avô - disse ela em tom breve - escuta-me bem. Sabes que a avozinha Saint-Méran morreu há uma hora e que, exceptuando tu, agora não tenho mais ninguém que me ame no mundo?

Uma expressão de infinita ternura passou pelos olhos do velho.

- Portanto, só a ti, não é verdade, posso confiar os meus desgostos e as minhas esperanças?

O paralítico fez sinal que sim. Valentine tomou Maximilien pela mão.

- Então, olha bem para este senhor.

O velho pousou os olhos perscrutadores e levemente atónitos em Morrel.

- É o senhor Maximilien Morrel - continuou Valentine -, o filho daquele honesto comerciante de Marselha de quem sem dúvida ouviste falar...

- Sim - indicou o velho.

- É um nome irrepreensível, que Maximilien está em vias de tornar glorioso, porque aos trinta anos é capitão de sipaios e oficial da Legião de Honra.

O velho fez sinal de que se lembrava dele.

- Pois bem, avozinho - disse Valentine, ajoelhando diante do velho e indicando Maximilien com a mão -, amo-o e só serei dele! Se me obrigarem a casar com outro, deixar-me-ei morrer ou matar-me-ei.

Os olhos do paralítico exprimiam um mundo de pensamentos tumultuosos.

- Tu gostas do Sr. Maximilien Morrel, não é verdade, avozinho? - perguntou a jovem.

- Gosto - indicou o velho, imóvel.

- E podes proteger-nos, visto sermos também teus filhos, da vontade do meu pai?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069