O Conde de Monte Cristo - Cap. 73: A promessa Pág. 703 / 1080

O velho sorriu com os olhos, como tinha o hábito de sorrir quando lhe falavam do Céu. Ficara sempre um bocadinho de ateísmo nas ideias do velho jacobino.

- Do acaso? - insistiu Morrel.

- Não.

- Do senhor?

- Sim.

- Do senhor?...

- Sim - repetiu o velho.

- Compreende bem o que lhe peço, senhor? Desculpe a minha insistência, porque a minha vida está na sua resposta: a nossa salvação vir-nos-á do senhor?

- Sim.

- Tem a certeza?

- Tenho.

- Assume essa responsabilidade?

- Assumo.

E havia no olhar que fazia esta afirmação tal firmeza que não era possível duvidar quer da sua vontade, quer da sua força.

- Oh, obrigado, senhor, obrigado cem vezes! Mas como, a não ser que um milagre do Senhor lhe restitua a palavra, o gesto, o movimento, como poderá, preso a essa poltrona, mudo e imóvel, como poderá opor-se ao casamento?

Um sorriso iluminou o rosto do velho, sorriso estranho como o daqueles olhos numa fisionomia imóvel.

- Portanto, devo esperar? - perguntou o rapaz.

- Deve.

- Mas o contrato?

Reapareceu o mesmo sorriso.

- Quer dizer que não será assinado?

- Quero - respondeu Noirtier.

- Assim, o contrato não será mesmo assinado! - exclamou Morrel. - Oh, desculpe, senhor! Quando nos anunciam uma grande felicidade, é legítimo duvidar. O contrato não será assinado?...

- Não - respondeu o paralítico.

Apesar desta segurança, Morrel hesitava em acreditar.

Aquela promessa de um velho impotente era tão estranha que em vez de provir de uma força de vontade podia emanar de um enfraquecimento de órgãos. Não é natural que o insensato que ignora a sua loucura pretenda realizar coisas superiores às suas forças?

O fraco fala dos pesos que levanta, o tímido, dos gigantes que enfrenta, o pobre dos tesouros que maneja, o mais humilde camponês, no cúmulo do seu orgulho, julga-se Júpiter.

Quer porque Noirtier tivesse adivinhado a indecisão do rapaz, quer porque não confiasse completamente na docilidade que mostrara, olhou-o fixamente.

- Que deseja, senhor? - perguntou Morrel. - Que lhe renove a minha promessa de nada fazer?

O olhar de Noirtier permaneceu fixo e firme, como se quisesse dizer que lhe não bastava uma promessa. Depois passou da cara para a mão.

- Quer que jure, senhor? - perguntou Maximilien.

- Quero - respondeu o paralítico com a mesma solenidade. Quero.

Morrel compreendeu que o velho atribuía grande importância ao juramento. Estendeu a mão.

- Juro-lhe pela minha honra - disse - esperar o que decidir para agir contra o Sr. de Epinay.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069