O Conde de Monte Cristo - Cap. 76: Os progressos de Cavalcanti filho Pág. 726 / 1080

- Nem eu - respondeu a Sr.ª Danglars, com uma presença de espírito admirável. - Mas o senhor começou uma frase que ficou inacabada.

- Qual?

- Afirmava que o Sr. Debray lhe dissera...

- Ah, é verdade? O Sr. Debray disse-me que era a senhora que sacrificava ao demónio do jogo.

- Tive esse gosto durante algum tempo, confesso, mas já o não tenho - declarou a Sr.ª Danglars.

- Pois faz mal, minha senhora. Meu Deus, as oportunidades da fortuna são tão precárias que se eu fosse mulher - e o acaso me tivesse tornado esposa de um banqueiro, por mais confiança que depositasse na sorte do meu marido (porque em especulação, como sabe, é tudo sorte e azar), repito; por mais confiança que depositasse na sorte do meu marido, começaria sempre por me garantir uma fortuna independente, ainda que para adquirir essa fortuna tivesse de confiar os meus interesses a mãos que lhe fossem desconhecidas.

A Sr.ª Danglars corou, a seu pesar.

- Olhe - prosseguiu Monte-Cristo, como se não tivesse visto nada -, fala-se de um bom golpe dado ontem com títulos de Nápoles.

- Não tenho - respondeu vivamente a baronesa -, nem nunca os tive. Mas parece-me que já falámos o suficiente de Bolsa, Sr. Conde. Parecemos dois correctores... Falemos um pouco dos pobres Villeforts, tão perseguidos neste momento pela fatalidade.

- Que lhes aconteceu? - perguntou Monte-Cristo com perfeita ingenuidade.

- Então não sabe? Depois de perderem o Sr. de Saint-Méran, três ou quatro dias depois da sua partida, acabam de perder a marquesa, três ou quatro dias depois da sua chegada.

- Ah, é verdade, soube disso! - declarou Monte-Cristo. - Mas como diz Clódio a Hamlet, trata-se de uma lei da natureza: os seus pais morreram antes deles e eles choraram-nos; eles morrerão antes dos seus filhos e os seus filhos chorá-los-ão.

- Mas isso não é tudo.

- Como não é tudo?

- Não. Como sabe, iam casar a filha...

- Com o Sr. Franz de Epinay... Desfizeram o casamento?

- Ontem de manhã, ao que parece, Franz restituiu-lhes a sua palavra.

- Deveras?... E conhecem-se as causas desse rompimento?

- Não.

- Que notícias me dá, meu Deus! A Sr.ª e o Sr. de Villefort como aceitaram todas essas desgraças?

- Como sempre, com filosofia.

Neste momento, Danglars voltou a entrar, sozinho.

- Então deixou o Sr. Cavalcanti com a sua filha? - observou a baronesa.

- E Mademoiselle de Armilly não é ninguém? - replicou o banqueiro.

Depois, virando-se para Monte-Cristo:

- Encantador rapaz, não é verdade? Refiro-me ao príncipe Cavalcanti... Mas ele é mesmo príncipe?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069