O Conde de Monte Cristo - Cap. 76: Os progressos de Cavalcanti filho Pág. 727 / 1080

- Não garanto - respondeu Monte-Cristo. - Apresentaram-me o pai como marquês; logo, ele seria conde. Mas creio que ele mesmo não tem grandes pretensões a esse título.

- Porquê? - redarguiu o banqueiro. - Se é príncipe, faz mal em não o dizer. A cada um o que lhe pertence. Não gosto que aspessoas reneguem a sua origem.

- Mas o senhor é um democrata! - exclamou Monte-Cristo, sorrindo.

- Veja ao que se expõe - observou a baronesa ao marido. Se o Sr. de Morcerf entrasse por acaso e encontrasse o Sr. Cavalcanti numa sala onde ele, noivo de Eugénie, nunca teve permissão de entrar...

- Faz bem em dizer por acaso - replicou o banqueiro -, porque na verdade dir-se-ia, tão raramente o vemos, que é de facto por acaso que ele cá vem.

- Enfim, se viesse e encontrasse esse rapaz com a nossa filha poderia não gostar.

- Ele? Meu Deus, como está enganada! O Sr. Albert não nos dá a honra de ter ciúmes da sua noiva; não a ama o bastante para isso. De resto, que me importa que goste ou não goste?

- No entanto, no ponto em que estamos ...

- Sim, no ponto em que estamos. Quer saber no ponto em que estamos? No baile da mãe, ele dançou uma única vez com a minha filha, o Sr. Cavalcanti dançou três vezes com ela e ele nem sequer deu por isso.

- O Sr. Visconde Albert de Morcerf! - anunciou um criado.

A baronesa levantou-se vivamente. Ia a dirigir-se para a sala de estudos, a fim de prevenir a filha, quando Danglars a deteve por um braço.

- Deixe - disse-lhe.

Ela olhou-o atónita. Monte-Cristo fingiu não ter visto nada.

Albert entrou. Vinha elegante e alegre. Cumprimentou a baronesa com à-vontade, Danglars com familiaridade e Monte-Cristo com amizade.

Depois, virando-se para a. baronesa, perguntou:

- Permite-me minha senhora, que lhe peça o favor de me dizer como está Mademoiselle Danglars?

- Está óptima, senhor - respondeu vivamente Danglars. - Neste momento toca um pouco de música na sua salinha com o Sr. Cavalcanti.

Albert conservou o seu ar calmo e indiferente. Talvez experimentasse algum despeito íntimo, mas sentia o olhar de Monte-Cristo fixo nele.

- O Sr. Cavalcanti tem uma belíssima voz de tenor - disse - e Mademoiselle Eugénie é um magnífico soprano, sem contar que toca piano como Thalberg. Deve ser um agradável concerto.

- De facto, harmonizam-se admiravelmente – acrescentou Danglars.

Albert pareceu não notar a grosseira ambiguidade da frase, tão grosseira que a Sr.ª Danglars corou.

- Eu também sou músico - continuou o rapaz. - Pelo menos é o que dizem os meus professores... Pois, coisa estranha, até agora nunca consegui harmonizar a minha voz com qualquer outra, e com a voz dos sopranos ainda menos do que com as outras.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069