O Conde de Monte Cristo - Cap. 77: Haydée Pág. 740 / 1080

»Metemo-nos na barca. Lembro-me de que os remos não faziam nenhum ruído ao tocar na água. Inclinei-me para os ver: estavam envoltos nas faixas dos nossos palicários.

»Na barca, além dos remadores, só seguiam mulheres, meu pai, minha mãe, Selim e eu.

»Os palicários tinham ficado à beira do lago, ajoelhados no último degrau e utilizando os outros três como parapeito para o caso de serem atacados.

»A nossa barca voava como o vento.

»- Porque vai a barca tão depressa? - perguntei à minha mãe.

»- Caluda, minha filha - respondeu-me ela. - É porque fugimos.

»Não compreendi. Porque fugia o meu pai, o homem todo-poderoso diante do qual habitualmente fugiam os outros e que tomara como divisa: Odeiam-me, portanto temem-me?

»Com efeito, era uma fuga o que o meu pai empreendia através do lago. Disse-me depois que a guarnição do castelo de Janina, cansada de um longo período de serviço...

Aqui, Haydée pousou o seu olhar expressivo em Monte-Cristo, que não tirava os olhos dela. Em seguida continuou lentamente, como quem inventa ou suprime.

- Dizia, signora - interveio Albert, que prestava a maior atenção à narrativa -, que a guarnição de Janina, cansada de um longo período de serviço...

- Se entendera com o serasqueiro Kurchid, enviado pelo sultão para se apoderar do meu pai. Fora então que o meu pai resolvera retirar-se, depois de enviar ao sultão um oficial francês em quem depositava toda a confiança, para o retiro que ele próprio preparara havia muito tempo e a que chamava kataplrygion, ou seja, o seu refúgio.

- E lembra-se do nome desse oficial, signora? - perguntou Albert.

Monte-Cristo trocou com a jovem um olhar rápido como um relâmpago, mas que passou despercebido a Morcerf

- Não, não me recordo - respondeu ela. - Mas talvez tarde me recorde e então dir-lho-ei.

Albert ia pronunciar o nome do pai, quando Monte-Cristo levantou devagar o dedo em sinal de silêncio. O jovem lembrou-se do seu juramento e calou-se.

- Era para o quiosque que vogávamos.

»Um rés-do-chão ornado de arabescos e com os terraços ao nível da água, e um primeiro andar que dava para o lago, era tudo o que o palácio oferecia de visível à vista.

»Mas por baixo do rés-do-chão e prolongando-se pela ilha ficava um subterrâneo, uma grande caverna para onde nos levavam, minha mãe, eu e as nossas criadas, e se amontoavam sessenta mil bolsas e duzentos barris. Nas bolsas havia vinte e cinco milhões em ouro e nos barris trinta mil libras de pólvora.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069