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Capítulo 77: Haydée

Página 742

»- Uma barca!... Duas!... Três!... - murmurou o meu pai

- Quatro!...

»E levantou-se, pegou nas suas armas e deitou, lembro-me perfeitamente, pólvora na caçoleta das pistolas.

»- Vasiliki - disse a minha mãe, tremendo visivelmente -, chegou o instante que vai decidir de nós. Dentro de meia hora saberemos a resposta do Sublime Imperador. Retira-te para o subterrâneo com Haydée.

»- Não te quero deixar - redarguiu Vasiliki. - Se morreres, meu senhor, quero morrer contigo.

»- Vai para junto de Selim! - gritou o meu pai.

»- Adeus, senhor - murmurou minha mãe, obedecendo, dobrada em duas, como se esperasse a aproximação da morte.

»- Levem Vasiliki - ordenou meu pai aos seus palicários.

»Mas eu, de quem se esqueciam, corri para ele e estendi-lhe as mãos. Ele viu-me, inclinou-se para mim e beijou-me na testa.

»Oh, esse beijo foi o último e ainda o sinto na testa!

»Quando descemos distinguimos através das latadas do terraço as barcas que iam aumentando de tamanho no lago e que, semelhantes pouco antes a pontos negros, pareciam agora aves rasando a superfície das ondas.

»Entretanto, no quiosque, vinte palicários, sentados aos pés de meu pai e escondidos pelos madeiramentos, espiavam com olhos raiados de sangue a chegada dos barcos e tinham junto de si grandes espingardas incrustadas de madrepérola e prata; no parque encontravam-se espalhados numerosos cartuchos. Meu pai consultava o relógio e passeava angustiado.

»Foi isso que mais me impressionou quando deixei meu pai depois de me dar o último beijo que recebi dele.

»Atravessámos, minha mãe e eu, o subterrâneo. Selim continuava no seu posto. Sorriu-nos tristemente. Fomos buscar almofadas ao outro lado da caverna e viemos sentar-nos junto de Selim. Nos grandes perigos, procuram-se os corações dedicados e, apesar de muito criança, sentia instintivamente que uma grande desgraça pairava sobre a nossa cabeça.

Albert ouvira muitas vezes contar, não pelo pai, que nunca falava disso, mas sim por estranhos, os últimos momentos do vizir de Janina. Também lera diversas narrativas da sua morte.

Mas aquela história, tornada viva na pessoa e pela voz da jovem, aquele tom expressivo e aquela lamentável elegia, penetravam-no simultaneamente de um encanto e de um horror inexprimíveis.

Quanto a Haydée, toda entregue a tão terríveis recordações, calara-se por instantes. A sua cabeça, como uma flor que se verga em dia de tempestade, estava inclinada sobre uma das mãos, e os seus olhos, vagamente perdidos, pareciam ver ainda no horizonte o Pindo verdejante e as águas azuis do lago de Janina, espelho mágico que reflectia o quadro sombrio que ela esboçava.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 742

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069